sábado, 04 de outubro de 2025
Euro Dólar

A CORUÑA – ARMANDO AVENA

Redação - 03/10/2025 07:41

Há algum tempo atrás estive em A Coruña e fiquei encantado. O encantamento veio da semelhança com Salvador, a cidade que eu amo e uma das mais belas do Atlântico Sul. Assim como Salvador, A Coruña é uma península que avança para o mar e é chamada de “cidade de cristal”, pois muitas casas antigas do centro histórico têm varandas envidraçadas e voltadas para o oceano.  E, do mesmo modo que o Farol da Barra é a ponta mais avançada no mar soteropolitano, em A Coruña, na ponta da península, também há um farol, a Torre Hércules, construída pelos romanos e que ainda hoje ilumina o Atlântico Norte. No entorno, fica a Rosa dos Ventos, um mosaico circular em homenagem aos povos ligados ao mar e que lembra a presença de celtas, vikings, romanos e fenícios na história e na cultura galega.

 E, como em Salvador, um lado da cidade está voltado para a baía,  para a ría, como dizem os galegos, e aí, em águas protegidas, está o Porto de Corunha. As rías da Galícia, sejam as Rías Baixas, em Vigo e Pontevedra, ou as Rías Altas, em A Coruña e outras cidades, são um símbolo da geografia galega.

 E há mais semelhanças entre as duas cidades voltadas para o Atlântico, uma ao Sul, outra ao Norte, – e elas estão na originalidade da cultura e das manifestações artísticas, na culinária e no patrimônio histórico.  Isso, sem contar que em Salvador vive uma comunidade galega que deixou marcas na vida cotidiana da capital baiana.

A Coruña não é a capital da Galícia, honra dada a Santiago de Compostela, nem sua principal cidade, mas tem uma originalidade própria, com seu centro histórico, seus museus e o Palácio da Ópera, que lhe dão um quê  aristocrático e intelectual.

 Fui a Coruña ver minha afilhada querida, Claúdia Avena, que mora lá com seu marido Daniel, neto do pintor Isaac Díaz Pardo, e dois filhos lindos. E assim  foi possível ver a cidade velha, a Praza de Maria Pita e o Castelo de San Antón e, depois, comer o arroz de bogavante no restaurante Tira do Playa, na Praia de Riazor, degustando um Albariño, o vinho branco típico da Galícia.

 E, estando lá, pude participar da homenagem que a cidade fez a Isaac Díaz Pardo, no Museu de Belas Artes da Coruña. Díaz Pardo que viu o pai ser assassinado pelo exército franquista, já era um pintor reconhecido por obras como A Barca De Caronte e Os Afogados quando, instado a participar da construção do Vale dos Caídos, um memorial à ditadura  que Franco mandou construir, preferiu abandonar a pintura a fazê-lo e passou a dedicar-se à cerâmica, montando a Real Fábrica de Sargadelos.

A Coruña é uma festa para os sentidos, que se deliciam com a comida, a arte e a cultura da Galícia e tudo isso com o bom humor dos galegos que vão lhe garantir que o  Deportivo de La Coruña é um dos grandes times da Espanha, a deliciosa Estrella Galicia é a melhor cerveja do mundo e que o genovês Cristóvão Colombo é galego. Viva A Coruña.

Publicado no jornal A Tarde em 03/10/2025

Copyright © 2023 Bahia Economica - Todos os direitos reservados.