Sérgio Faria, engenheiro e escritor, presidente da ALAS – Academia de Letras e Artes do Salvador
Os que são da minha geração para trás haverão de lembrar um quadro marcante do humor na televisão brasileira, onde o inesquecível Agildo Ribeiro fazia a personagem de Aquiles Arquelau, um professor de Mitologia Grega que misturava história com imaginação e se perdia no tempo, até que seu mordomo, por ele chamado de “múmia paralítica”, tocava a campainha para trazê-lo de volta à realidade. Além disso, reiteradamente, o professor suspirava exaltando a beleza da atriz Bruna Lombardi e sempre tentava, em vão, citar o teorema de Pitágoras.
O teorema de Pitágoras é um velho conhecido de todo e qualquer estudante de matemática no ensino médio e relaciona o comprimento dos lados de um triângulo retângulo, figura geométrica formada por três lados e um ângulo reto, demonstrando que a soma do quadrado dos catetos é sempre igual ao quadrado da hipotenusa.
Pitágoras, que se dizia filho de Apolo, deus das artes e da música, foi um importante filósofo dentre os chamados Pré-socráticos, fundador da escola filosófica no Sul da Itália, região que ficou conhecida como Magna Grécia. Embora fosse originário da ilha de Samos, que hoje corresponde à Itália meridional, teria fugido para o Sul por conta de sua inimizade com o tirano Polícrates.
Seu pensamento estava voltado a encontrar uma substância ideal, única, capaz de justificar a existência de todas as coisas, e acreditava na transmigração das almas, ou seja, tudo que existe no presente contem o espírito de algo que existiu no passado e o Universo seria formado por ciclos sucessivos.
Com uma personalidade diferenciada, fundou uma confraria místico-filosófica e sua seita alimentava crenças e mandamentos bastante exóticos, como, por exemplo, proibir seus seguidores de fabricar pão, comer feijão ou mirar-se no espelho.
Talvez por conta de todo esse mistério, a seita se popularizou, atraindo muitos seguidores, e Pitágoras passou a ser visto como uma ameaça à sociedade, pois muitos temiam que ele usasse sua influência para tomar o poder.
Consta que seu fim foi trágico, uma multidão ateou fogo na sua casa, sendo que ele teria escapado, mas deteve-se diante de uma plantação de feijão e, recusando-se a pisotear a plantação que julgava sagrada, preferiu ser alcançado e morto pelos inimigos.
Ao idealizar sua personagem, Agildo Ribeiro, talvez para fazer referência a Pitágoras, cujo teorema o professor Aquiles Aquelau jamais acertava repetir com exatidão, usou e abusou de caracterização igualmente exótica, criando a figura enigmática de um professor que vestia sempre roupas escuras e exibia os cabelos armados para o alto, sugerindo uma personalidade estranha e de difícil compreensão, como Pitágoras.
Entretanto, diferentemente de sua personagem, Agildo nada tinha de estranho. Já no final da sua vida, cansei de encontra-lo passeando de mesa em mesa no Each Café do Leblon, fumando charuto e bebendo uísque, sempre alegre, simpático, espontâneo e rodeado de bons amigos.
Fica aqui a minha homenagem à alegria e ao humor inteligente e sofisticado de Agildo Ribeiro.