segunda, 09 de junho de 2025
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A MÍDIA QUER ESCOLHER OS CANDIDATOS A PRESIDENTE EM 2026, MAS O ELEITORADO PARECE QUERER UMA NOVA DISPUTA ENTRE LULA E BOLSONARO.

Redação - 09/06/2025 10:59 - Atualizado 09/06/2025

Há uma inquietação evidente na cobertura política da imprensa nacional, quando o assunto se refere a pesquisas eleitorais. O noticiário se alterna entre destacar a desaprovação do governo Lula e o fato de Bolsonaro estar inelegível e, por trás das análises, está, às vezes subliminarmente, às vezes claramente, a ideia de que “a maioria não quer nem um, nem outro”.

A sensação que fica é de que parte da mídia não quer apenas reportar os números, mas está louca para moldar o cenário eleitoral e, se fosse possível, escolher os candidatos. É engraçada a ânsia de parte da imprensa nacional em dizer que os brasileiros não querem nem Lula, nem Bolsonaro como candidatos em 2026, assumindo os resultados da pesquisa Quaest, que mostraria ser esta a preferência de 66% do eleitorado. É apenas uma narrativa sem base concreta.

Em primeiro lugar porque pesquisas de opinião, a mais de um ano das eleições de 2026, não são prévias decisivas, mas apenas fotografias de momento. Depois, porque em todas as simulações de segundo turno, são justamente Lula e Bolsonaro que continuam à frente, mostrando ser esta a preferência dos eleitores.

Como explicar isso? O dado mais óbvio é que esses 66% são uma soma: incluem desde eleitores arrependidos e críticos sinceros até indiferentes e indecisos. Mas uma coisa não mudou: Lula e Bolsonaro ainda são os dois políticos mais conhecidos, mais organizados e mais lembrados em qualquer cenário eleitoral.

A leitura apressada de que o eleitor rejeita os dois é tentadora — mas superficial. Na verdade, o que as pesquisas mostram é um cansaço com a polarização, não necessariamente uma recusa às figuras centrais dela. É um sentimento legítimo, mas que, sozinho, não constrói alternativas.

Afinal, mesmo com essa fadiga evidente, nenhum nome fora da polarização ultrapassou os dois em intenções de voto. E a história recente mostra que a possibilidade do “terceiro nome” precisa de muito mais do que um desejo da mídia: precisa de estrutura, identidade e carisma. Por enquanto, afora Lula e Bolsonaro, nenhum dos possíveis candidatos apresentou essas condições.

É curioso, porém, como certos veículos têm insistido em lançar luz sobre possíveis substitutos. A centro-direita tem sido tratada como um viveiro promissor, com vários nomes que “cresceram nas pesquisas” — mas crescer de 1% para 3% é estatisticamente irrelevante. E crescer tirando Bolsonaro do cenário, é brincadeira.

A mídia foca em Tarcísio de Freitas, como o melhor quadro da direita. E querem dizer que na esquerda não há ninguém capaz de substituir Lula.  Ora, é uma visão simplista que esquece que o governador de São Paulo não é competitivo sem Bolsonaro. E que Fernando Haddad teve 45% dos votos na eleição de 2018 e é o candidato mais conhecido da esquerda no país. Mas sem Lula Haddad não é competitivo.

A narrativa nos grandes jornais do Sudeste do país é de uma ingenuidade ululante: a população não quer nem Lula, nem Bolsonaro; Haddad é um péssimo ministro da Fazenda;  na centro-direita só haverá chance para um candidato moderado, tipo Tarcísio. O problema é que essa narrativa não cola: o eleitor brasileiro parece querer uma nova disputa entre Lula e Bolsonaro.

Claro, Bolsonaro está inelegível e o governo Lula está com péssimos índices de popularidade, mas daí a querer fazer a cabeça do eleitor para uma eleição sem os dois vai uma distância muito grande.

A eleição é um processo em construção — e pesquisas tão distantes do pleito dizem muito pouco sobre o que realmente decidirá os votos. Falam apenas  sobre as expectativas — ou preferências — de quem as interpreta. Por isso, é bom pedir certa parcimônia na mídia brasileira, pois quando ela se antecipa demais, corre o risco de alimentar mais confusão do que debate.

Por enquanto, o eleitorado parece querer uma nova disputa entre Lula e Bolsonaro. Se isso é factível, é um outro problema. (EP – 09/06/2025)

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