O mar não está pra peixe. Os sinais do cenário macroeconômico — altas taxas de juros ainda com viés de alguma elevação, inflação persistente, câmbio teimoso, falta de desejo político de controlar o desequilíbrio fiscal, alimentação do PIB com injeções artificiais na base da pirâmide social, insegurança jurídica, são alguns dos inúmeros fatores que só tem aumentado a aflição de vários líderes no universo empresarial produtivo. No cenário externo a “Trumpulência” desorganizou o comércio internacional e tem desbalanceado a geopolítica mundial.
Faturamento abaixo do desejado, rentabilidade decepcionante e alto grau de endividamento têm tirado o sono de acionistas e dirigentes de vários negócios nos diversos setores da economia. Estratégias mal conseguem sair do papel e raramente funcionam quando começam a ser implementadas. Negócios que pensávamos ser sólidos têm sido destruídos da noite para o dia, devido a soluções disruptivas que desafiam os modelos que foram construídos com um prazo de validade já visível.
Mesmo as empresas que apresentam certo resultado, salvo as exceções das que desfrutam de receitas financeiras por estarem capitalizadas, navegam em um patamar de “sub desempenho satisfatório” e vivem atormentadas em um clima de incertezas sobre o seu amanhã.
Para agravar a situação várias empresas contabilizam significativa fuga de talentos por insistirem nos tradicionais planos de carreira, na desbotada idéia da escalada de vários degraus até chegar ao topo, enquanto os jovens têm pressa e preferem subir bem mais rápido. Muitos tem preferido declinar dessas ofertas que foram úteis no passado e movem‑se numa velocidade proporcional ao seu talento, por não se identificarem com o Propósito nem com os Valores da empresa. Constituem o que pode ser chamado de “ciganos empresariais”.
Isso para não falar da dificuldade de lidar com o tema da sucessão, o maior “Calcanhar de Aquiles” de várias empresas, cuja maioria não consegue sobreviver ao desaparecimento do seu fundador. As que passam por essa etapa têm enorme dificuldade de passar o bastão para a terceira geração.
Momentos de dúvidas e incertezas geram a necessidade de uma reflexão mais profunda. Chegou a hora de um breve “pit stop” visando alinhar uma visão compartilhada — entre acionistas, investidores, membros do Conselho de Administração, dirigentes e gestores — sobre os desafios que os aflige e sobre as prioridades para o turnaround e consequente construção do futuro
Normalmente, sobram dúvidas em relação a esse processo. Como enfrentar a hora da verdade? Como fazer acontecer?
Chegou a hora de varias empresas em diversos negócios tomar decisões corajosas e produzir ações que as direcionem ao próximo patamar de suas trajetórias. Não pode mais ser considerada uma opção “empurrar com a barriga” e ficar esperando que situações inesperadas ou indesejadas forcem mudanças, quando não tiver mais jeito.
O novo patamar pode significar “pivotar” seu produto ou serviço, para utilizar um termo bastante moderno do jargão das startups, passando a atender novas necessidades de consumo conquistando novos nichos de clientes; criando outros modelos de negócios.
Para chegar lá, as organizações podem criar inúmeras alternativas, incluindo investir em tecnologia; atrair um novo sócio; promover fusão ou aquisição de outra empresa; abandonar uma linha de produtos; monetizar ativos não relevantes; criar novos serviços, diversificar os negócios, alterar a forma de se relacionar com clientes, renegociar dívidas, zelar pelo retorno no capital investido, desenvolver parcerias estratégicas, investir no desenvolvimento de um novo perfil de pessoas etc.
Em momentos de incerteza, ficar inerte é um convite à perda de relevância e ao desaparecimento. As empresas precisam se reinventar, para aumentar o seu prazo de validade e garantir o seu amanhã. Só assim, conseguirão aumentar as chances de sucesso e de maior grau de autossustentabilidade na corrida pela sobrevivência.
César Souza, consultor e conselheiro de empresas, é o Presidente do Grupo Empreenda