As relações internacionais entre países se dão na base do afago, do interesse das lideranças em posicionar-se internacionalmente e, principalmente, dos interesses comerciais.
Do afago, porque nenhum chefe-de-estado, por mais interesses comerciais que se tenha, vai visitar outro chefe-de-estado que não lhe dá importância, ou pior, que se mostra politicamente contra ele. É o caso de Lula em relação aos Estados Unidos, onde existem enormes interesses comerciais, mas o presidente americano não dá a menor bola ao brasileiro e, pelo contrário, demonstra claramente sua simpatia pela oposição interna, no caso Jair Bolsonaro.
Ora, se Trump não dá bola a Lula, nada mais natural que o presidente prestigie o outro lado da balança de poder no mundo, representado pela China.
É, por isso, que Lula está viajando para China, onde cumprirá agendas nos dias 12 e 13 de maio. Diferente de Trump, o presidente Xi Jinping vem fazendo acenos comerciais e políticos ao presidente brasileiro, que será convidado de honra do Foro Celac–China, que congrega os países latino-americanos e a nação asiática.
O encontro entre Lula e Xi tem fortíssima conotação política e econômica. A relação econômica entre Brasil e China será o tema principal, especialmente por conta do fortalecimento dos laços comerciais entre os dois países, após a imposição de tarifas pelo governo americano. Um exemplo é o comércio da soja que, com as atuais tarifas, será reduzido a zero ou quase e o Brasil, como maior exportador mundial, pode ampliar significativamente seu fornecimento de soja ao gigante asiático.
Mas a política também será tema central na visita e a nova posição do Estados Unidos no cenário geopolítico e econômico global, agora adotando um caráter nitidamente autoritário, impondo tarifas e entabulando negociações leoninas, estará no centro das discussões.
A China já mostrou que não se submeterá à política de Trump, que considera desrespeitosa e chantagista, e vem afirmando ao mundo que pode viver sem os EUA. O encontro com o Brasil amplia essa posição, demonstra que são cada vez mais fortes os laços entre os paises e que os membros do Brics têm força não só para viver sem os EUA, mas para enfrentá-lo no terreno comercial, inclusive questionando a hegemonia do dólar.
A viagem de Lula tem como foco a visita ao presidente Xi Jinping, mas antes, ele passará pela Rússia, o que parece um equívoco sem tamanho. A convite do presidente Vladimir Putin, Lula participará das celebrações dos 80 anos da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista na segunda guerra mundial, quando haverá um grandioso desfile cívico-militar em Moscou.
Essa visita é do interesse de Putin, que deseja mostrar que não está isolado no mundo, mas é muito ruim para o Brasil, que se afasta dos aliados da União Europeia e como que avaliza a invasão da Rússia pela Ucrânia. Aliás, Lula vem errando reiteradamente nesse tema desde o início, quando propôs, ainda no governo governo de Joe Biden, uma proposta de acordo entre Moscou e Kiev que previa a cessão de territórios ucranianos à Rússia, o que foi criticado pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky e por toda a Europa Ocidental. Reconhecer o direito da Rússia aos territórios invadidos é quase como dizer que Putin pode invadir outros territórios e pleitear o reconhecimento deles se ganhar a guerra.
Visitar a China é desmontar soberania e força, inclusive para enfrentar a política de Trump. Visitar a Rússia é compactuar com o que há de mais retrógrado em termos de política internacional (EP- 05/05/2025)