O senador Angelo Coronel (PSD‑BA) surpreendeu o mundo político na semana passada ao criticar, em entrevista à Rádio 93 FM de Jequié, a anunciada chapa dos governadores, que teria três integrantes do PT para concorrer nas eleições de 2026.
Na chapa, o PT estaria representado por Jerônimo Rodrigues, que buscaria a reeleição, e Jaques Wagner e Rui Costa, que disputariam as duas cadeiras ao Senado. Coronel, que planeja concorrer novamente ao Senado, disse que o PSD não aceita ficar de fora e partiu para o ataque: “Antigamente, os nazistas de Hitler queriam manter uma raça pura. Sem querer ir a esse extremo passado, é inadmissível o PT querer três, até quatro vagas”, disse na entrevista.
Logo depois, o senador afirmou que foi mal interpretado, mas manteve sua insatisfação que, de resto era esperada, afinal foi rifado da possibilidade de vir a ser candidato à reeleição.
Mas o posicionamento de Coronel precisa ser esclarecido, pois ele vem colocando o seu partido, o PSD, como alijado da chapa, embora em nenhum momento isso tenha sido colocado. O PSD poderá participar da chapa, afinal a candidatura à vice-governador ainda não foi preenchida e o partido que a ocupa, o MDB, ficou fragilizado, após a derrota de Geraldo Jr. na sua tentativa de se eleger prefeito de Salvador.
Assim, é preciso definir se a insatisfação com a montagem da chapa é do partido, comandado na Bahia pelo senador Otto Alencar, ou se é apenas a insatisfação do político Angelo Coronel.
Isso é fundamental porque a densidade eleitoral de Coronel é bem menor do que a do PSD. O senador Otto Alencar, PHD em política, não se pronuncia sobre o assunto e nada tem a perder. Coronel está defendendo que o partido tenha lugar na chapa e, embora isso seja tautológico, pois trata-se da maior força eleitoral partidária da Bahia, amplia a força partidária na ocupação dos espaços políticos no âmbito da aliança eleitoral. O PSD obviamente vai participar da chapa, mas a movimentação de Coronel amplia as cartas disponíveis na negociação.
Nesse contexto, a movimentação de Coronel pode ser apenas “para inglês ver” e, vale lembrar, o senador já fez ameaças semelhantes em 2022, e acabou compondo a chapa. Tudo indica, portanto, que tudo ficará como dantes no quartel de Abrantes e que toda a indignação é jogo de cena, mas é conveniente para o PSD que deseja ampliar as compensações pelo espaço senatorial perdido.
Segundo as especulações nos meios políticos, a movimentação de Coronel não teria implicações políticas graves, até porque se ele romper sozinho, sem seu partido, o efeito eleitoral seria pequeno, mas o teor de suas declarações estaria sendo forte demais. O senador rebate, lembrando que sempre fala o que pensa.
Por outro lado, é nítido que Coronel pretende atacar uma área escura do PT da Bahia, que é a suposta briga interna entre Jaques Wagner e Rui Costa, algo que parece existir, mas que, no frigir dos ovos, é sempre contornada no âmbito do próprio PT.
O fato é que as movimentações de Angelo Coronel são legítimas e fazem parte do processo político, mas todos sabem que ele sozinho não representa o PSD e que, provavelmente, aceitará as decisões que o partido tomar. (EP – 28/04/2023)
Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados