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JOSÉ MACIEL – O DESTINO DAS EXPORTAÇÕES AGROPECUÁRIAS  BRASILEIRAS E SUAS IMPLICAÇÕES

Redação - 16/12/2024 08:32
Segundo estudos do CEPEA-Centro de Estudos Avançados em Economia aplicada, da ESALQ, as exportações brasileiras do agronegócio alcançaram em 2023 um patamar superior a 166 bilhões de dólares, representando um acréscimo de 4,2% em relação aos valores de 2022. O valor físico exportado cresceu quase 18%, relativamente ao ano anterior, com destaque para milho, soja, carnes e farelo e óleo de soja, dentre outras pautas.
Em termos de destinos dessas vendas, a China continua sendo o nosso maior parceiro comercial, com uma participação de 36% de todo o valor gerado. Cerca de 73% da soja exportada pelo Brasil, 60% da carne bovina, 48% da celulose, 34% da carne suína, 49% do algodão em pluma, 27% do milho e 17% da carne frango exportada vendida no mercado externo se destinam ao mercado chinês.
Os 27 países da UE-União Europeia ostentam a segunda posição em termos de destino de nossas vendas externas, com uma participação de 13% das receitas geradas. Cabe ressaltar que este percentual parece estar declinando, tendo sido de 16% em 2022. Produtos florestais, café , frutas e suco de laranja dominaram  o universo de produtos comprados pelos europeus junto ao agro brasileiro.
Os EUA se colocam na terceira posição de nossa pauta de exportações setoriais, perfazendo uma parcela de 5,9% de nossas vendas. Essa participação foi de 6,4% em 2022, configurando um aparente declínio nos últimos anos. Os norte-americanos têm importado madeira, suco de laranja, etanol, café, frutas, celulose e papel, e, mais recentemente, carne bovina brasileira, dentre outros produtos
Argentina e Chile se destacam nas importações de produtos brasileiros, entre os países sul-americanos.
É relevante salientar a existência de um vasto contingente de nações que, somadas, representam 36,1% de nossas vendas externas, configurando um esforço importante de diversificação de destinos para as exportações brasileiras. Essa participação equivale a uma “nova China ” no elenco de nossos parceiros comerciais. Países asiáticos,  como Japão, Coreia do Sul, Indonésia e Vietnã, e países árabes, a exemplo  da Arábia Saudita, Emirados árabes Unidos e Irã, compõem esse bloco promissor de nações do tamanho de uma “nova China”. Esses dados mostram que parte do esforço brasileiro de conquista de mercados deve se dirigir, em certa medida, a esses e outros países da Ásia e Oriente Médio.
Diante dos números apresentados nos parágrafos precedentes, alguns analistas podem eventualmente questionar se seria relevante para o Brasil gastar esforços para aumentar nossas vendas no mercado americano e na conclusão  das negociações  do acordo entre Mercosul e União Europeia, já que se trata de países com trajetória declinante na compra de produtos agrícolas do Brasil, em termos relativos.
Inicialmente,  é  importante salientar que que o aumento , diversificação e manutenção de destinos e mercados devem estar sempre presentes no desenho de políticas comerciais e exportações de qualquer país, ainda mais que  estamos tratando de países importadores, com grandes contingentes populacionais e níveis elevados de renda percapita.  Por sua vez, o  trabalho de prospecção de nossos adidos agrícolas deve ajudar nas escolhas de novos mercados a serem objeto de negociações e tratativas comerciais por parte do Ministério da Agricultura e de nossa diplomacia.
É preciso considerar também   que as estratégias de políticas comerciais não  devem ser excludentes, ou seja, devemos negociar com  todos os países, para evitar  dependência excessiva de certos destinos e aumentar vendas para países com pouco dinamismo nas importações de produtos agrícolas brasileiros, mesmo aqueles de perfil protecionista,  buscando atender os requisitos de qualidade e os padrões sanitários por eles exigidos, como EUA, Japão, Coreia, Canadá, França, Polônia, Irlanda e outros.
É oportuno destacar ainda  que certos países protecionistas, como Estados Unidos , Japão e outros, funcionam frequentemente como referência, para o bem e para o mal, para que outros países de mercados importantes tomem decisões de importações de países exportadores. Por exemplo, se os EUA, o Japão e a Coreia do Sul aceitarem importar frutas frescas e processadas e carne bovina brasileira de gado livre de febre aftosa sem vacinação, isso pode facilitar os esforços do Brasil na conquista de outros mercados para esses produtos, já que nações exigentes em matéria de qualidade e de padrões  sanitários já tomaram a decisão de importar do Brasil. Essa chancela por parte desses países favorece e facilita o esforço do Brasil na conquista de novos mercados.
No contexto aqui referido, a conclusão recente das negociações entre o Mercosul e a UE, ainda pendente de aprovação interna de todos os países dos dois blocos ( e isso pode demorar meses ou anos para ser finalizado),  é  um fato que não deve ser desprezado. A  médio e longo prazo , alguns itens de nossa pauta de exportações agropecuárias poderão ter suas tarifas zeradas nas importações, embora, no caso das carnes, as cotas de importação pelos europeus sejam relativamente pequenas. No entanto, a permanência  da lei antidesmatamento aprovada pelo Parlamento Europeu, com vigência prevista para dezembro de 2025, além de incoerente com o espírito liberalizante do acordo Mercosul-UE, pode gerar imensas dificuldades para as nossas exportações de soja, cacau, café, madeira, carne bovina, couro, óleo de palma e borracha. Brasil, Indonésia e outros países podem ter muitas dificuldades nas exportações com a vigência dessa lei.
(1)Consultor Legislativo e doutor em Economia pela USP. E-mail:  [email protected]

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