quinta, 09 de maio de 2024
Euro 5.5723 Dólar 5.177

JOSÉ MACIEL – A PESQUISA DA EMBRAPA COM FRUTEIRAS NATIVAS  NO SEMIARIDO DO NORDESTE

Redação - 27/08/2023 07:09 - Atualizado 31/08/2023

Em colunas passadas , pontuamos que uma frente de trabalho importante da pesquisa da EMBRAPA consistiu na chamada  “tropicalização de culturas”, ou seja , a adaptação de lavouras de clima temperado  às condições climáticas tropicais. O exemplo mais bem sucedido foi a introdução da soja nos cerrados do Centro Oeste brasileiro e do Nordeste, incluindo a Bahia e os estados do chamado MATOPIBA. Mais recentemente , o chamado “trigo tropical” vem avançando nessas regiões, como opção de cultura de inverno, em rotação com a soja, principalmente, abrindo espaço para a busca da autossuficiência no abastecimento brasileiro deste cereal estratégico para a nossa população, o que vai diminuir nossa vulnerabilidade  diante de importações cada vez mais cercadas de incertezas.

Uma segunda frente inclui esforços  de tropicalização de fruteiras de clima temperado , com a experimentação e introdução de variedades de plantas de alto valor comercial em regiões de altitude e até do semiárido do Nordeste, a exemplo da pera, caqui e maçã, além do universo das chamadas frutas vermelhas, como morango , framboesa , mirtilo, amora e outras , no semiárido , especialmente Juazeiro e Petrolina, e na chapada Diamantina, respectivamente. Neste último caso, as frutas vermelhas vem ganhando destaque . Em ambas as regiões, os dados de produção, adaptação e  produtividade se  afiguram promissores.

Uma terceira agenda de pesquisa  em  andamento inclui esforços com vistas a transformar culturas frutíferas hoje objeto de exploração extrativista, em pequena escala, em cultivos comerciais em condições de sequeiro, com maior produtividade, maior tamanho de frutos, além de maior proporção de polpa e precocidade de início de colheita. Plantas que hoje iniciam a produção em dez anos ou mais, podem, com esse processo , ter seus frutos colhidos a partir de  5 anos ou menos. Aqui, ganham destaque o umbu, o maracujá do mato, a goiabinha, o araticum, a ceriguela, cajarana, umbuguela e outras. Várias espécies dessas culturas são pouco estudadas pela pesquisa, e, como se viu, são colhidas diretamente da natureza, inexistindo o cenário de cultivos comerciais.

Sem dúvida, a fruteira de maior potencial neste universo é o umbuzeiro, a “a árvore sagrada do sertão”, segundo o livro ‘Os Sertões “, de Euclides da Cunha. Apesar de ostentar crescimento lento em seu estado nativo, o umbuzeiro tem raízes túberas ou xilopódios, que armazenam água e nutrientes, daí sua  comprovada resistência à  seca. Segundo estudos da EMBRAPA, as pesquisas indicam que o melhor método de propagação do umbuzeiro, para fins de cultivo comercial, é a enxertia, que permite a manutenção das características da planta propagada, a formação de pomares mais uniformes, em termos de tamanho de plantas, maior produção de  frutos com maior  tamanho, além de aumento da  proporção de polpa e precocidade de início de colheita. Para se ter uma ideia, um fruto do umbu nativo  pesa, em média, 18 gramas .  Com o plantio de algumas variedades já disponibilizadas pela EMBRAPA, é possível obter frutos com 98 gramas ou mais. Embora os frutos sejam largamente consumidos in natura, há enorme potencial para a exploração agroindustrial, sob a forma de sucos, polpas, geleias , compotas , doces , néctares, sorvetes e até cerveja de umbu. A Cooperativa de Canudos, Uauá e Curaçá tem se destacado na produção desses produtos    e já tem exportado para países, como Itália, França e Áustria. Com a liberação de variedades comerciais pela EMBRAPA em 2019, a ideia é incentivar o plantio de áreas comerciais, permitindo o apoio a atividades de geração renda, emprego, e o “reflorestamento da caatinga”, dentre outras vantagens. Ademais, essas variedades  representam um  passo significativo na domesticação da espécie e na viabilização de cultivos comerciais com materiais de bom potencial produtivo e frutos de qualidade.

O maracujá do mato tem também sido objeto de pesquisas no semiárido, e, além das possibilidades de produção de sucos, polpas e geleias, existe a perspectiva de uso medicinal, para fins de tratamento da insônia e ansiedade.

Em suma, essas são algumas iniciativas da EMBRAPA com o objetivo de viabilizar plantios comerciais de fruteiras nativas no semiárido do Nordeste, sem necessidade de uso de irrigação. Cabe aos  estados nordestinos se juntar a estes esforços, com assistência, técnica, distribuição de mudas, formação de bancos de germoplasma, além de  influenciar a agenda da  EMBRAPA para ampliar o elenco de fruteiras pesquisadas, e de apoiar a operação de agroindústrias de pequeno ou médio porte. Essa é uma agenda de grande potencial para a agricultura da zona semiárida do Nordeste.

(1)Consultor Legislativo e doutor em Economia pela USP.  E-mail: [email protected]

Copyright © 2023 Bahia Economica - Todos os direitos reservados.