Política também é geografia, por isso cada candidato à Prefeitura de Salvador deveria estudar com carinho a geografia urbana e demográfica da cidade. Para começar é preciso dizer que sete bairros de Salvador – Cajazeiras, São Caetano, São Cristóvão, Liberdade, Valéria, Itapuã, e Brotas – abrigam aproximadamente cerca de 55% da população soteropolitana e possuem o maior número de eleitores. Esses bairros são estratégicos nas campanhas dos candidatos e têm características bem definidas, especialmente os cinco primeiros.
Ao mesmo tempo, existem aglomerados urbanos com densidade populacional em áreas como o Nordeste de Amaralina, Calabar, Pernambués, Cosme de Farias e Boca do Rio e outros. Esses bairros têm características bem definidas sendo a maioria da população de renda média ou baixa. O nível de informação política dessas áreas tem crescido, mas focado fundamentalmente em veículos como a televisão e as redes sociais.
Nas eleições de 2022, nesses bairros o presidente Lula venceu disparado a eleição contra o candidato Jair Bolsonaro, mas quando se avalia as eleições para governador essa diferença cai. Em Salvador, no primeiro turno, ACM Neto tem 53% dos votos e Jerônimo Rodrigues 37%, indicando que o candidato do União Brasil, que tem sua base de votos em bairros como Barra, Pituba, Graça, Stiep e Jardim de Alá, ampliou sobremaneira seus votos agregando eleitores dos bairros de baixa renda. Mas no segundo turno, a proporção se inverte, Jerônimo tem 65% dos votos e ACM Neto ficou com 35%, perdendo os votos que antes havia agregado e voltando à proporção de sua base eleitoral. Esse resultado e porque isso aconteceu, precisa ser objeto de avaliação das campanhas de cada candidato, para que assim possam montar estratégias mais focadas. No caso do PSOL, chama atenção que a votação do candidato Kleber Rosa, nas eleições para governador em Salvador, foi maior na Barra, Centro, Graça, Pituba e Ondina, bairros de renda mais alta, o que desde logo aponta para necessidade de foco nas comunidades mais pobres de Salvador.
Esses dados soltos não dizem muita coisa, mas estruturados e sistematizados em relação aos fatos políticos que aconteceram, como a evolução da campanha televisiva, a polarização mais acentuada da campanha, o impacto das campanhas nas redes sociais e outros, podem ajudar nas estratégias de campanha.
Há, no entanto, um fato novo nessa eleição: a Geração Z. Essa geração composta por jovens que nasceram a partir do final dos anos 90 até meados da segunda década dos anos 2000, não participaram ou participaram pouco da última eleição para prefeito de Salvador, por conta da Covid e de outros problemas, mas agora ela está pronta para votar, desde que a eleição mobilize sua atenção com temas do seu interesse. Analistas veem nesse grupo de eleitores um contingente capaz de virar o jogo e, aliás, é o que está acontecendo nas eleições americanas onde o eleitorado jovem colocou Kamala Harris na liderança da campanha. E, novamente, é preciso lembrar que a maior parte dos jovens da chamada Geração Z moram nos bairros da periferia de Salvador. O fato é que o jogo está jogado e muita coisa ainda vai rolar nessa campanha que agora começa para valer. (EP -19/-8/2024)