A vinda da BYD para a Bahia e a implantação de sua fábrica é um passo importante para a economia baiana. E a Bahia acompanha ansiosa a implantação em Camaçari do complexo automobilístico. Tão importante é que a data de início da produção local passou a ser uma preocupação. Isso porque as primeiras informações indicam que a fábrica vai entrar em operação em 2025 utilizando o sistema SKD – Semi Knock-Down e não se sabe por quanto tempo vai operar nessa modalidade.
No sistema SKD, os veículos serão produzidos inteiramente na China e o que virá para a Bahia serão kits integrados completos para serem montados aqui. Serão importados 26 kits completos, com partes inteiras dos automóveis. Os conjuntos virão prontos, inclusive, ao que parece, o motor, a transmissão, a suspensão e até as rodas. Esse sistema simples é o que antigamente se chamava de fábricas “maquiadoras” e gera pouco impacto em termos de geração interna de renda e emprego.
Felizmente, a BYD informa que esse sistema deve durar pouco e, embora não estabeleça um cronograma, afirma que logo será substituído pelo sistema CKD – Completely Knock-Down no qual o veículo é produzido e desmontado na China e, ao invés de partes completas, serão importados kits de peças e partes que serão montados aqui. No CKD, os veículos são desmontados em componentes individuais na China, para serem enviados ao local de montagem e, portanto, haverá mais etapas realizadas aqui, onde o monobloco do veículo será armado, soldado e pintado e poderá haver algum conteúdo nacional. Mas, ainda assim, quase tudo será produzido na China. É uma linha de montagem um pouco mais complexa que a SKD, mas tem impacto restrito no mercado de mão-de-obra e os desdobramentos à montante e à jusante serão poucos, tanto em termos de mobilização de fornecedores e outras fábricas, como na geração de empregos. Utilizando os sistemas SKD e CKD dificilmente serão gerados os 10 mil empregos prometidos pela empresa.
Felizmente a BYD informa que numa etapa seguinte, vai começar a produzir o carro em Camaçari com boa parte das peças produzidas nacionalmente. Mas é fundamental que seja definido a data e o cronograma de cada etapa, para que os sistemas SKD ou CKD, com custo muito menor, não se eternizem. É verdade que, no médio prazo, algum nível de produção local será imprescindível, pois a BYD pretende exportar seus carros para o Mercosul, onde os países exigem percentual de conteúdo nacional. Mas o ideal é que isso não fique ao sabor da demanda de mercado, mas haja definição clara das etapas e do valor do investimento.
No curto prazo, o maior benefício que a BYD trará para a Bahia será no setor de serviços, no entorno da fábrica e na logística, que demanda uma operação portuária de alta complexidade. Infelizmente, neste primeiro momento, a empresa não encontrou instalações portuárias na Bahia que viabilizassem a importação de milhares de automóveis e passou a trabalhar com outros portos, concentrando-se agora no Porto de Suape, escolhido pela BYD como seu “hub” e, assim, milhares de automóveis estão vindo de Shenzhen, na China, e desembarcando em Pernambuco. Isso não pode continuar por muito tempo, sob pena do esforço fiscal que a Bahia fez beneficiar outro estado, sendo fundamental que governo e a BYD negociem as modificações necessárias para que os portos baianos, especialmente o Terminal Miguel Oliveira também conhecido como Porto da Ford, se transformem no “hub” da BYD. Isso beneficiará a empresa, afinal Salvador está a meio caminho entre o Norte e o Sul e a Comexport, maior empresa de comércio exterior do Brasil contratada pela BYD, que opera em Suape, não terá dificuldade em operar na Bahia. Aliás, anote-se aqui que a BYD já vem utilizando os portos baianos para trazer equipamentos para a construção da fábrica, mas é fundamental que a operação portuária da empresa seja focada na Bahia gerando empregos, impostos e demanda por serviços. Em resumo: a BYD é bem-vinda, mas precisa definir melhor seu cronograma e focar sua operação portuária na Bahia.
O COMPLEXO INDUSTRIAL DE SAÚDE
O complexo industrial de saúde está em processo de rearrumação no país e as mudanças atingem a Bahia. Hoje, no segmento privado, a Rede D’or já é dominante em Salvador, controlando os hospitais Aliança, São Rafael, Cardio Pulmonar e Aeroporto. E agora a rede Dasa e a Amil fecharam um acordo que junta 25 hospitais e centros oncológicos das duas empresas em uma joint venture. Mas o Hospital da Bahia e a Clínica Amo ficaram de fora do negócio e novos desdobramentos vão acontecer. Salvador tem outros hospitais com expertise em várias áreas, a exemplo do Hospital Santa Izabel, Português, Mater Dei, Promédica e outros, mas a tendência é no sentido de ficarem poucos grupos no setor.
Publicado no jornal A Tarde em 11/07/2024