Articulação e comunicação são dois fatores fundamentais para qualquer governo. O governo Lula vai completar 14 meses e ainda não resolveu essas duas questões chaves. No que se refere à articulação, os embates frequentes do governo com o Senado e a Câmara de Deputados demonstram que alguma coisa está faltando nessa área. A semana começa com mais uma crise a ser administrada envolvendo a veto de Lula à “saidinha” de presos para visitar a família, que deve ser derrubado e o Senado que recorreu na noite de sexta-feira (26) da decisão do ministro do STF Cristiano Zanin que suspendeu trechos da lei que prorrogou a desoneração da folha de empresas e prefeituras.
O governo Lula não tem articulação política e por um motivo claro: há muitos interlocutores e a articulação política precisa de uma linha única de atuação. Lula teima em dar a função de articulação política a Alexandre Padilha, a Rui Costa e a Fernando Haddad nos assuntos relacionados com a economia. Isso gera ruído, especialmente no que diz respeito aos dois primeiros-ministros e a questão política. Resultado: Lula sempre tem que entrar em campo para resolver os conflitos e as pendências. Urge, portanto, estabelecer um comando único na articulação política do governo.
A comunicação do governo tampouco funciona e a prova concreta disso é o desconhecimento da população com relação à questão econômica. A economia brasileira vai bem sob vários aspectos, no entanto, a população não está consciente disso, pelo contrário, na última pesquisa sobre o assunto demonstra claramente sua insatisfação. Não há campanhas governamentais mostrando que o PIB cresceu quase 3% em 2023 e vai crescer próximo a isso em 2024. Tampouco se fala que a inflação está dentro da meta, que a taxa de desemprego está caindo e que as vendas no varejo estão subindo.
Na falta de comunicação do governo, a população vem se abastecendo dos posts das redes sociais que, como todos sabem, se apoia em interesses definidos. A imprensa econômica, por seu turno, é fortemente influenciada pelos economistas fiscalistas, que tendem a colocar todos os problemas na cesta fiscal. Se quiser fugir das crises constantes no Congresso Nacional e da avaliação negativa nas pesquisas de opinião, o governo Lula precisa mexer com urgência na articulação e na comunicação. (EP – 29/04/2024)
Foto: Evaristo Sá/AFP