Anotarei aqui as minhas esperanças para acontecimentos favoráveis ao desenvolvimento do Brasil, limitando-os ao meu campo de atuação profissional de petróleo, gás natural e petroquímica, considerando projetos que estão em curso e fatos econômicos que poderão ocorrer. Começarei pelo gás natural (GN), usado como matéria-prima e na geração de energia térmica e elétrica nas residências, comércio e indústria.
O Brasil produz atualmente cerca de 140 milhões de m3/dia de gás natural, reinjeta nos campos de petróleo 70 milhões de m3/dia e importa aproximadamente 20 milhões de m3/dia. Se conseguisse reinjetar menos, aumentaria a oferta do gás nacional e economizaria divisas, o que provavelmente proporcionaria queda nos preços. Isso seria possível se separasse maior quantidade de gás carbônico para reinjeção do gás produzido no pré-sal. O preço do gás boliviano está mais em conta (US$ 6,67/MMBTU em novembro) mas o liquefeito está muito caro (US$ 95,08/MMBTU,preço FOB Estados Unidos, em setembro). O gasoduto Néstor Kirchner, que levará oshale gas de Vaca Muerta na Patagônia argentina para Buenos Aires, deverá ter seu primeiro trecho concluído em junho deste ano, acrescentando mais 10 milhões de m3/dia ao mercado sul-americano. As etapas seguintes do projeto aumentarão a oferta do GN para 40 milhões m3/dia e poderá ser enviado para o Brasil, chegando por tubovia até Fortaleza, se for construído o trecho de 600 km de Uruguaiana a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
A produção de petróleo onshore no Nordeste deverá crescer, ou mesmo dobrar de volume. Isso se forem confirmadas as previsões das empresas independentes que adquiriram as instalações e os campos maduros da Petrobras, notadamente a 3R Petroleum e a PetroRecôncavo, que acabou de adquirir os campos da norueguesa Maha, na Bahia. Esse acréscimo favorece aos estados, municípios e proprietários de terra com o aumento dos royalties, fortalecendo toda a economia do interior. Em relação ao refino de petróleo, as sete refinarias privadas que estão em funcionamento, lideradas pela Acelen, que está investindo na ampliação da capacidade da Refinaria de Mataripe e é dona do Temadre, o segundo maior terminal aquaviário do País, o movimento é de evolução de suas posições, realizando investimentos com melhorias operacionais e ampliações. Esse é um acontecimento promissor e tido como certo para 2023.
No campo industrial, o fato mais esperado para 2023 é a partida da primeira fase do projeto de hidrogênio verde da Unigel, com capacidade de 10 mil t/ano. Quando concluída a segunda fase, indo para 40 mil t/ano, ela será maior do mundo. O hidrogênio será utilizado na fabricação de amônia verde. Esta se juntará ao ácido sulfúrico da fábrica de 500 mil t/ano, a maior do Brasil, que está sendo construída em Camaçari, para a produção do fertilizante sulfato de amônio.Assim, poderemos ter amônia fabricada a partir da água, ar, vento e sol, todas fontes inesgotáveis.
Os acontecimentos aqui apontados e que por certo farão parte das coisas boas que irão acontecer em 2023, não são únicos e a lista deles é muito maior. Tudo operaria melhor, se os investimentos que estão sendo realizados pela iniciativa privada fossem acompanhados de obras de infraestrutura tais como a realização do Projeto da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), construção do Porto Sul, ampliação do Porto de Aratu e de outros igualmente importantes que alavancariam o desenvolvimento regional. Esses ajustes são imprescindíveis na atração de novos investimentos e estariam sendo apreciados pelos empresários quando da avaliação das diversas alternativas de localização que lhes são ofertadas. Também têm ligação com o desenvolvimento do agronegócio, que está prosperando a passos largos puxado pelo bom momento da economia mundial.
Temos, com tudo isso, motivos para nos sentirmos otimistas, sem dúvidade que atravessamos época de grandes realizações e acreditando na certeza de vermos a conjuntura mundial ao nosso lado, mantendo a esperança de melhora do nosso mundo.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]