Na coluna anterior, veiculamos algumas informações sobre o chamado Polo Agroindustrial e Bioenergético, localizado nos municípios baianos Barra e Muquém do São Francisco, no Médio São Francisco, com alguns projetos aprovados (7) e outros em análise (5), perfazendo um montante de investimentos da ordem de 2,3 bilhões de reais e previsão de geração de aproximadamente 22 mil empregos, além de uma Fazenda Escola para formar e capacitar mão-de-obra para os referidos projetos e outros que vierem a se instalar na área, já que o esforço de atração de novos investimentos prossegue.
Pois bem , no mesmo Médio São Francisco, nos municípios de Xique-Xique e Itaguaçu , um projeto público de irrigação, o perímetro irrigação do Baixio de Irecê, promete um impacto transformador nada desprezível. Ao todo, a área alcança a magnitude de 105 mil hectares , sendo 48 mil hectares irrigáveis. Não existe nada nessa dimensão em operação no país. Alguns acham que o Médio São Francisco será o eldorado da produção agropecuária baiana e brasileira. Nesse ponto, somos mais comedidos, mas os impactos não serão de pequena monta.
O aludido projeto está dividido em 9 etapas , dos quais as duas primeiras, envolvendo uma área 16 mil hectares irrigáveis, já estão com as obras de captação e distribuição de água para os lotes prontas, consumindo recursos da ordem de 1 bilhão de reais. Aí, o processo de ocupação e início de operação e produção de frutas e outras pautas já está em andamento. Os outros cerca de 32 mil hectares irrigáveis serão objeto de concessão para a iniciativa privada (envolvendo um montante de investimento de 1, 1 bilhão de reais), visando a conclusão das obras de infraestrutura e captação de água, dentre outros itens. O leilão está marcado para o dia 10 de fevereiro próximo, segundo informações da CODEVASF, veiculadas na imprensa.
Os impactos positivos dessa segunda fase serão sentidos obviamente numa perspectiva de longo prazo , mas as duas primeiras etapas, correspondentes aos 16 mil hectares irrigáveis, já gerarão efeitos positivos expressivos no curto e médio prazos. Para fins de comparação, essas duas primeiras etapas representam quase a dimensão do Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho, no polo de irrigação de Juazeiro-Petrolina, que detém uma área irrigada de 18 mil irrigados, e que atualmente gera um valor bruto da produção de algo como 1,7 bilhão de reais, decorrentes da produção e venda de frutas, como uva, manga, goiaba e outras fruteiras. Não é pouca coisa.
Se consideradas as pautas de algumas frutas comparadas a alguns grãos, 1 hectare irrigado de frutas gera um valor bruto da produção equivalente a 8 ou 10 vezes (ou até mais) ao de 1 hectare de sequeiro de alguns grãos, por conta da alta produtividade , preços relativamente elevados e possibilidade de produção de duas a três safras anuais de frutas, e, muitas vezes, na entressafra das áreas e países concorrentes. O nível de geração de empregos é de magnitude relativa ainda maior : 1 hectare irrigado de uva pode gerar até 30 vezes mais postos de trabalho que 1 hectare de soja no sequeiro, por conta do processo integralmente mecanizado na produção do grão. Na uva, a geração de emprego na colheita é significativo.
Portanto, fiquemos atentos aos movimentos de investimentos observados e previstos para o nosso Médio São Francisco, tanto no Polo Agroindustrial como no perímetro irrigado do Baixio de Irecê. Se a região será o novo eldorado da produção agropecuária baiana e nacional, não sabemos. Mas , o volume de investimentos e os impactos na produção e geração de renda e emprego não parecem desprezíveis.