A taxa de crescimento do número de casos de Covid-19 em Salvador está mais elevada que a média nacional e, mantida nesse patamar, ao final de maio a demanda por leitos de UTI será maior que o estoque disponível. Isso significa que o isolamento, bem como o uso de máscaras, permanece sendo fundamental, para evitar a ampliação do número de mortes. Portanto, o Prefeito ACM Neto agiu corretamente ao não atender os apelos de muitos empresários que desejavam abrir parcialmente o comércio já no próximo dia 4 para aproveitar o Dia das Mães. Neto resistiu, mas deve anunciar nesta quinta-feira uma flexibilização para o dia 11 de maio, permitindo a abertura de algumas lojas e dos shoppings centers, desde que em horário reduzido e com a adoção de medidas sanitárias rígidas.
A flexibilização dará um alívio aos empresários, afinal o isolamento vai completar 45 dias e tem sido desastroso para milhares de pequenas empresas, especialmente no setor de comércio e serviços, mas precisa ser restrita e localizada para que não se perca o que foi alcançado até aqui. Não se pode esquecer que nos bairros periféricos o percentual de pessoas que cumprem o isolamento já é baixo e a abertura de lojas vai reduzir essa proporção em outros bairros.
O exemplo de Blumenau é ilustrativo: uma semana após abrir shoppings e restaurantes, a cidade viu o número de casos subir 28% em 24 horas. Ou seja: é melhor conviver um pouco mais com o isolamento e sair dele de forma segura do que ter de enfrentar um lockdown imprevisível. O mesmo raciocínio serve para o Estado cuja taxa de crescimento médio dos casos de Covid-19 está um pouco abaixo da média nacional, mas em algumas localidades está bem acima da média.
Este economista não está alheio a situação das empresas baianas que, sem faturar, estão tendo de buscar empréstimos juntos aos bancos e, além de arcar com juros extorsivos, seguros e taxas, ainda pagam o registro em cartório. Por isso, é preciso mais empenho do governo federal na liberação de crédito. É preciso também que o governo do Estado e a Prefeitura de Salvador, que não podem abrir mãos dos impostos nesse momento, estejam cientes que, passado a pandemia, terão de adiar e parcelar tributos para que os empresários possam recompor suas finanças. Mas a verdade é que estamos em guerra e contra um inimigo que está matando 500 brasileiros por dia, por isso é preciso um esforço de guerra por parte de todos.
O COMÉRCIO ENTENDE
O Presidente da Fecomércio-Ba, Carlos Andrade, sempre foi um homem ligado a saúde e, tanto no comando da antiga rede de farmácias Estrela Galdino, como agora, considera que a saúde é o bem maior. Por isso, mesmo preocupado com a situação dos pequenos empresários, compreende que é mais prudente esperar um pouco para flexibilizar o comércio. Mas lembra que as empresas estão chegando ao limite, há 45 dias com despesas e sem faturamento. Segundo ele, o endividamento e o número de títulos protestados está crescendo e o Sebrae estima em mais de 600 mil as empresas que já fecharam no Brasil. A Fecomércio-Ba apoia o combate a Covid-19, mas lembra que comércio e serviços precisam retomar as atividades.
TESTES NAS EMPRESAS
A possibilidade das empresas passarem a testar seus funcionários, e assim permitir o isolamento dos que estiverem contaminados e a volta ao trabalho daqueles que testarem negativo, deveria ser apoiado pelos governos. Os testes rápidos detectam a presença de anticorpos no sangue e podem identificar pessoas que estão com a infecção ativa há alguns dias, incluindo casos assintomáticos, e também aquelas que já tiveram a doença de forma assintomática e se curaram. Não é a solução ideal, afinal ainda há dúvidas sobre a imunização, mas se a medida for adotada juntamente com o uso de máscaras e dos demais cuidados sanitários indispensáveis pode ser uma boa alternativa para viabilizar o retorno ao trabalho.
Publicado no jornal A Tarde em 29/04/2020
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