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FLÁVIO BOLSONARO, A DIREITA BRASILEIRA E O CUSTO DO AMADORISMO POLÍTICO

Redação - 08/12/2025 07:55 - Atualizado 08/12/2025

A pré-campanha presidencial mal começou e um episódio já sintetiza o estado atual da direita brasileira: o lançamento informal da candidatura de Flávio Bolsonaro. O gesto, que deveria demonstrar força, acabou revelando fragilidade. Ao sugerir que sua disposição de concorrer tem “um preço” — a anistia e a liberdade de seu pai — o senador expôs uma tática política rudimentar, quase ingênua, para um campo que pretende disputar a Presidência da República.

A fala evidencia um erro estratégico básico: transformar um pleito de natureza jurídica em moeda de troca eleitoral, como se a opinião pública, o sistema político e o próprio eleitorado conservador não estivessem atentos ao movimento. Em vez de consolidar uma narrativa de unidade, Flávio reforça, sem querer, a percepção de que o bolsonarismo perdeu capacidade de organizar seu entorno.

E o problema não é isolado. A direita tem um candidato forte — mas age como se não tivesse. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é hoje o nome mais competitivo do campo conservador. Tem experiência administrativa real, imagem positiva em setores empresariais e desempenho eleitoral comprovado. Qualquer força política madura estaria empenhada em blindar seu ativo, ordenar o tabuleiro e construir alianças desde já.

Mas o que se vê é um ambiente fragmentado, onde lideranças regionais testam seus próprios nomes apenas para aumentar barganhas futuras; grupos da direita liberal hesitam entre autonomia e acomodação; o bolsonarismo, órfão de sua figura central, ainda opera na lógica do improviso; e figuras como Flávio Bolsonaro transformam movimentos estratégicos em gestos de pressão mal calculados.

Agindo assim, o risco eleitoral é enorme, afinal, a esquerda opera com método há décadas: centraliza decisões, controla arestas e sabe quando abrir dissensões e quando fechá-las.

A direita, ao contrário, parece não ter aprendido nada desde 2018. Há uma década age como um fenômeno eleitoral espontâneo que não se transformou em projeto organizado de poder. E se esse comportamento continuar, o desfecho é previsível: pulverização.

O cenário de hoje indica que entre os candidatos da direita haverá um bolsonarista puro-sangue, um liberal “independente” e talvez algum outsider alimentado pelas redes. E, assim, o eleitorado de direita tende a se dividir.

A direita brasileira está diante de uma escolha clara: ou profissionaliza-se, buscando coordenação, narrativa consistente e disciplina interna; ou revive o cenário de 1989, quando a multiplicidade de candidatos conservadores abriu espaço para a vitória de Lula no segundo turno.

A candidatura de Flávio Bolsonaro, lançada de forma tão desajeitada, não é apenas um fato pontual: é sintoma de uma direita que ainda não entendeu que eleição majoritária exige método, estratégia e maturidade — e não impulsos momentâneos ou chantagens improvisadas. Se continuar assim, não será eleitoralmente competitiva. (EP – 08/12/2025)

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