

O comportamento dos investimentos chineses no Brasil mudou de forma significativa nos últimos anos — e essa transformação também já é visível na Bahia. Antes marcadas por grandes operações de compra de empresas, especialmente no setor elétrico, as investidas chinesas agora tendem a ser menores, mais diversificadas e voltadas principalmente para projetos greenfield, aqueles iniciados do zero. É o que aponta um estudo da butique de investimentos Araújo Fontes.
Se na década passada prevaleciam megaoperações, como as aquisições de CPFL Energia e Duke Energy no Sudeste e Sul do país, o movimento atual se concentra em ocupar diferentes regiões brasileiras com novos empreendimentos. Na Bahia, esse novo ciclo tem se refletido em aportes em energia renovável, infraestrutura logística, indústria e mineração.
Segundo Marcio Santiago, sócio da área de fusões e aquisições da Araújo Fontes, o avanço de projetos greenfield é uma tendência que beneficia estados com grande disponibilidade de áreas e potencial energético, caso baiano. “O investimento passou a ser mais pulverizado e estratégico. Empresas chinesas estão olhando para regiões com forte capacidade de geração renovável e expansão logística, e a Bahia está no radar”, afirma.
Bahia atrai atenção pela força no setor energético
A mudança de perfil ocorre em um momento em que a Bahia se consolida como líder nacional na geração de energia eólica e amplia sua participação na energia solar, dois segmentos de grande interesse das companhias chinesas. Nos últimos anos, grupos estrangeiros têm buscado instalar parques eólicos e solares no interior baiano, impulsionando cadeias de produção locais e ampliando oportunidades para municípios como Caetité, Campo Formoso, Morro do Chapéu e Juazeiro.
Esse movimento acompanha o cenário nacional: enquanto as grandes fusões e aquisições diminuíram, o investimento em novos projetos quase dobrou. Em 2021, cerca de metade dos recursos chineses no Brasil foi para projetos iniciados do zero. Em 2023, essa fatia já correspondia a 90%.
Infraestrutura e mineração entram na mira
Além da energia, empresas chinesas têm demonstrado interesse crescente pela malha logística baiana, especialmente corredores de exportação ligados ao agronegócio e à mineração. A expectativa é que a ampliação de ferrovias e portos, como o Porto Sul, em Ilhéus, aumente a atratividade do estado para novos aportes internacionais.
A Bahia também segue como ponto estratégico no setor mineral, com destaque para cobre, níquel e vanádio. A diversificação dos investimentos chineses, apontada pelo estudo, inclui justamente áreas como mineração, produção industrial e agricultura, reforçando a conexão com o perfil econômico baiano.
De acordo com o levantamento, entre 2007 e 2023 o Brasil recebeu US$ 73 bilhões em investimentos chineses. No mundo, esses aportes cresceram de US$ 24,8 bilhões em 2007 para US$ 170,1 bilhões em 2016, mantendo-se acima de US$ 110 bilhões por ano. Cerca de 60% são distribuídos entre diversos países — sinal de que a China tem buscado reduzir sua dependência de investimentos financeiros tradicionais e ampliar a presença produtiva em mercados estratégicos.
Esse reposicionamento, impulsionado por fatores geopolíticos, favorece estados como a Bahia, que combinam infraestrutura em expansão, potencial energético e posição estratégica no Nordeste.
Após a queda de investimentos causada pela pandemia em 2020, os aportes voltaram a crescer no Brasil em 2021, puxados principalmente pelo setor de petróleo e gás. Embora a Bahia não concentre os maiores investimentos desse segmento, o estado tem avançado em áreas que se alinham às novas prioridades chinesas, sobretudo energia limpa e logística.
Com a consolidação de novos projetos e o aumento do interesse por setores estratégicos, a tendência é que a Bahia continue atraindo uma fatia cada vez maior dos aportes chineses nos próximos anos.