

Neste final de semana, o ministro do STF Alexandre de Moraes decretou a prisão preventiva de Bolsonaro, após ser registrada uma tentativa de rompimento da tornozeleira eletrônica, segundo informes do Centro de Integração de Monitoração do DF.
Os motivos do comportamento de Bolsonaro, se ele agiu assim por “paranóia” e alucinações medicamentosa, como alega; ou se tratou-se de uma “intenção de fuga”, que seria facilitada por uma vigília convocada por seu filho Flávio, como quer o ministro do STF Alexandre de Moraes, já não importa muito. O que importa é que, com a prisão preventiva, que será transformada em efetiva nos próximos dias, encerra-se o papel de líder ativo da direita no Brasil até aqui exercido por ele.
E inicia-se uma nova fase na direita brasileira, que se desenha entre incertezas e riscos. A prisão de Bolsonaro não apenas fragiliza a figura mais emblemática do bolsonarismo, mas também aprofunda as divisões potenciais que hoje estão expressamente definidas, colocando de um lado a ala radical e de outro a ala moderada ou pragmática.
A prisão preventiva de Bolsonaro marca uma nova degradação simbólica do bolsonarismo: o ex-presidente, agora preso em local controlado, perde parte de sua centralidade política, sofrendo desgaste público e institucional. A quebra da tornozeleira representa não apenas um gesto físico de desobediência, mas um símbolo da instabilidade do poder familiar.
Nesse vácuo, Flávio Bolsonaro ganha protagonismo estratégico. A figura do senador, que pode assumir o papel de líder do bolsonarismo, emerge como um divisor de águas. Seus posicionamentos futuros e sua decisão sobre se candidatar ou não à Presidência da República em 2026, mantendo o nome Bolsonaro no centro da política brasileira, é quem vai definir se a direita no Brasil caminhará unida ou não.
Se insistir em personalizar o legado, reivindicando uma candidatura presidencial para si ou para perpetuar o nome “Bolsonaro”, Flávio certamente cristalizará o núcleo duro do eleitorado radical em seu entorno, mas estimulará a cisão com a direita moderada.
Se mantiver seu nome como candidato, haverá inevitavelmente a cisão da direita e nomes como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e outros governadores de estados conservadores poderão se colocar como alternativas para uma direita mais institucional e moderada, disposta a disputar o poder com mais amplitude.
Por outro lado, se Flávio optar por compor com esse grupo, sacrificando uma candidatura própria em favor de Tarcísio ou outro nome competitivo, ele poderá fortalecer uma frente única capaz de reunir tanto os eleitores bolsonaristas quanto uma parcela mais pragmática e moderada. Essa opção permitiria transformar a direita em uma coalizão eleitoral viável, com menor risco de fragmentação e mais apelo para eleitores centristas.
Esse seria um caminho racional e pragmático e é possível que, pleiteando a posição de candidato a vice para um quadro bolsonarista, Flávio Bolsonaro caminhe nessa direção.
Há, contudo, uma variável inquietante: Eduardo Bolsonaro, que pode assumir o papel de líder da extrema-direita. Mesmo com o pai preso, e estando fora do Brasil, Eduardo mantém relevância e ressonância entre a base mais radical do bolsonarismo — e, se fizer isso com vigor, pode empurrar a ala mais radical para fora de qualquer aliança pragmática. Essa radicalização poderia aprofundar a divisão interna e tornar difícil qualquer composição na direita brasileira.
A direita se encontra, portanto, em uma encruzilhada crítica: a figura de Flávio Bolsonaro, já poderosa, e com alguma influência no comportamento do irmão mais novo, pode ser o ponto de convergência ou de ruptura. Sua decisão definirá se os conservadores vão se organizar como uma alternativa governável e unificada ou se vão se fragmentar irreversivelmente entre um bloco radical e outro moderado. (EP – 24/11/2025)