

“Quando a IA começar a criar arte que emocione os humanos, estaremos diante de uma nova forma de consciência – ou de uma simulação perfeita dela“.
Yuval Noah Harari
A arte reflete o que há de mais sensível na alma e o criador de conteúdo artístico, seja na arquitetura, escultura, pintura, música, literatura, dança oucinema (a sétima arte), precisa ter sensibilidade para despertar no público, através do seu trabalho, diferentes emoções.
Uma das mais geniais composições eruditas de todos os tempos é, sem dúvida alguma, o trecho do quarto movimento da nona sinfonia de Beethoven, conhecido como Ode to Joy (Ode à Alegria), que dura em torno de 25 minutos, sendo absolutamente impossível alguém permanecer indiferente a suaexecução.
Na escultura, o jovem Michelangelo, então comapenas 26 anos, fez nascer Davi a partir de umbloco de mármore carrara, obra monumental, com5,17 metros de altura, exemplo de perfeiçãoanatômica e realismo, símbolo maior da força e da coragem, valores essenciais para o homemrenascentista.
Ainda nas artes visuais, VIncente Van Gogh, Internado para tratamento psquiátrico em Saint-Rémy, transformou o sofrimento pessoal na maispura expressão da beleza, pintando o quadro TheStarry Night (A Noite Estrelada), visual inconfundível, um show de movimento, luz e cores.
Na literatura, a tragédia de Hamlet, escrita por volta de 1600, trascende seu tempo e reflete a condiçãohumana. Sendo uma das obras mais lidas e estudadas no mundo, se constitue em um marco para a literatura universal, representando o padrãode comportamento do homem moderno, consciente, pensativo e permanentemente atordoado por suadúvidas.
De certo, se poderia ilustrar estas constataçõestrazendo à memória uma lista interminável de gêniosque, com inteligência e criatividade, marcaramdefinitivamente a evolução da humanidade atravésda arte: Bach, Mozart, Pollock, Gaudí, Zaha Hadid, Cervantes, Camões, Monet, Picasso, Villa Lobos, Leonardo da Vinci, Hermeto Pascoal, NanáVasconcelos, Neruda, Niemeyer, Santiago Calatrava, Dante Alighieri, Tarsila do Amaral, Tom Jobim, Castro Alves, Fernando Pessoa, Machado de Assis, Fellini, Garcia Marquez, Cora Coralina, José Saramago, …
Vira e mexe e, no vazio das noites de insônia, vouacrescentando a essa lista muitos outros nomesigualmente geniais e fico me perguntando sobre a arte e o papel do artista na era da InteligênciaArtificial (IA).
Como garantir a autenticidade de uma obra? A autenticidade permanecerá como um valor da criação artística?
Qual o comportamento esperado para os consumidadores da arte? Com que critérioscontemplaremos uma obra? Seremos capazes de nos emocionar e nos sensibilizar diante de umtrabalho realizado com a combinação de recursos artificiais?
Caberá ao artista do futuro um ofício cada vez maismecânico, burocrático e bem menos inventivo, ou o artista, até aqui criador, assumirá um novo papel, o de curador e organizador das contribuições geradascom o emprego de tecnologias avançadas?
A IA elimina a criatividade, ou, ao contrário, oferecenovos e importantes instrumentos para que o artista possa ampliar o uso da criatividade?
Possivelmente, no curto e médio prazos, essasindagações serão consideradas ingênuas, fruto da ansiedade, do espanto e da inquietação diante do desconhecido, mas o fato é que são perguntas para as quais, neste exato momento, ainda não se pode precisar as resposta.
“É viver para crer“…
Sérgio Faria, engenheiro e escritor, presidente da ALAS – Academia de Letras e Artes do Salvador e membro da ABROL – Academia Brasileira Rotária de Letras