

O preocupante cenário com o número crescente de empresas que estão se vendo forçadas a entrar em RJ – Recuperação Judicial, ganhou um novo colorido com as notícias recentes sobre a crise enfrentada por algumas empresas icônicas como a Cosan e a Ambipar. O que parecia muito sólido parece se dissolver como fruto de um emaranhado de erros tanto negociais quanto atitudinais, com as revelações ultrapassando as paredes das empresas. e ganhando contornos surpreendentes.
Até mesmo a metáfora do “sonho grande” de empresários como Jorge Paulo Lehman, parece se transformar em pesadelo quando tornam-se públicos os sérios problemas nos seus diversos negócios. Como se não bastasse o desconforto ainda não devidamente explicado com o sucedido nas Lojas Americanas, agora temos notícias que a sua rede de 57 lanchonetes Burger King nos Estados da Geórgia e da Flórida, um investimento de cerca de 1 bilhão de dólares em 2010, recorreu ao Chapter 11 da Lei de Falências nos Estados Unidos. Em 2019, o investimento na Heinz, empresa que atua no ramo de condimentos, mostardas e ketchup, feito pelo grupo por ele liderado, começou a azedar depois da fusão com a gigante Kraft Foods e o 3G se retirou de fininho do negócio em 2021.
Essa deterioração empresarial não é privilégio de poucas empresas. Esse processo tem sido bastante comum e frequente.
O resultado de um levantamento constata que das 20 maiores empresas do País em 2015, apontadas por várias publicações, apenas 11 continuavam na mesma lista em 2021. Ou seja, 45% delas não permaneceram no ranking. E algumas delas não estão mais em lista alguma. Simplesmente faliram, desapareceram.
Não precisamos de muito esforço para nos lembrar das inúmeras marcas famosas e icônicas que sumiram no passado, além de casos recentes daquelas que foram tragadas em escândalos de operações policiais.
Pensemos na sombria analogia entre os acidentes aéreos e o colapso de empresas. Em ambos os casos, usualmente ocorre uma perversa combinação de fatores, pois, raramente é um único problema a causa do desastre.
Enumero a seguir 15 causas recorrentes para a quebra do que antes parecia sólido, baseado em minha experiência como executivo e, durante as últimas duas décadas, como consultor de inúmeras empresas de variada gama de negócios, tamanho e geografia de atuação:
A grande maioria de casos de empresas em dificuldade tem como causa-raiz da sua situação pelo menos um dos itens listados acima. Ah, quase ia esquecendo dos sistemas inadequados de remuneração que na maioria das empresas oscilam entre dois extremos: de um lado não incentivam, e as vezes até punem, a obtenção de resultados que nem sempre são grandiosos, apesar de saudáveis; ou, por outro lado, premiam, com bônus exagerados, resultados imediatistas obtidos por práticas predatórias que acabam por comprometer a autossustentabilidade da empresa no longo prazo.
Também não se pode menosprezar fatores externos, como novos concorrentes; tecnologias disruptivas; mudança em políticas governamentais que alteram inflação, juros e câmbio; impacto de crises no cenário internacional; e brutal alteração no custo dos insumos.
Entretanto, esses fatores deveriam ser detectados em tempo hábil pelo radar de líderes antenados que anteveem, antecipam e transformam possíveis ameaças em oportunidades de negócio. Já os complacentes e negacionistas não percebem tendências e, depois, apenas lamentam a mudança dos ventos.
Sabemos que, não à toa, bons marinheiros são formados no enfrentamento de tempestades e não em períodos de calmaria.
Por esses motivos, costumo afirmar que o maior concorrente das empresas quase sempre está dentro de casa, na lacuna de formação de profissionais proativos, assertivos e protagonistas.
O consultor e autor Jim Collins, que tive o prazer de trazer ao Brasil em 1994, quando ainda despontava no cenário corporativo com o seu “Feitas para Durar”, publicou em 2010 uma obra-prima, chamada “Como as Gigantes Caem”, que recomendo como leitura obrigatória.
Assino embaixo da inteligente proposta dos cinco estágios do declínio descritos no livro, mas, aqui, procuro colocar a bola no chão, indo diretamente ao que observo no mundo corporativo, com enfoque mais no “por que” do que no “como”; mais nas causas-raiz do declínio do que nos sintomas.
Sugiro que o leitor use a lista das 15 causas que apontei acima, como um checklist. Se perceber dois ou mais itens muito presentes no cotidiano da sua empresa, faça um pit stop de avaliação e tome providências antes que um possível câncer se consolide e desencadeie uma metástase, arrastando sua empresa para um indesejado estágio terminal.
César Souza, consultor e conselheiro de empresas, é o Presidente do Grupo Empreenda