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A OPERAÇÃO NO RIO MOSTRA QUE A SEGURANÇA PÚBLICA VAI SER O MOTE DA DIREITA NAS ELEIÇÕES E CONTRAPÕE CLÁUDIO CASTRO A TARCÍSIO DE FREITAS

Redação - 03/11/2025 08:59 - Atualizado 03/11/2025

A segurança pública será, sem dúvida, um dos temas centrais da eleição presidencial de 2026. O medo da violência está entre as maiores preocupações dos brasileiros, e a direita já percebeu que a pauta é eleitoralmente potente e pretende focar nela.

Desde Bolsonaro, em 2018, a retórica do “bandido bom é bandido morto” consolidou-se como senha simbólica de ordem, autoridade e antipetismo. E, na semana passada, a megaoperação policial no Rio de Janeiro, que resultou em elevado número de mortos, demonstrou que a espetacularização do combate à violência vai ser usada pelos políticos.

A ação do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, teve nítida conotação política, no sentido de se colocar como herdeiro da visão bolsonarista de combate à violência.

E aqui é preciso dizer: ao assumir a liderança de uma operação dessa magnitude, com elevado número de bandidos mortos e com apoio expressivo da população, o governador do Rio de Janeiro não quis se cacifar apenas no seu Estado — quis se colocar como alternativa do bolsonarismo raiz para substituir Bolsonaro. Aliás, não foi por outro motivo que o candidato da direita moderada, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, passou ao largo da ação e praticamente não se manifestou.

Focar a campanha no combate à violência tem apelo fortíssimo junto à classe média e em uma cidade sitiada como o Rio de Janeiro. Mas, quando se fala em campanha nacional para a Presidência da República, essa estratégia tem limites.

Para o campo da direita, a segurança tem dupla função política: mobiliza o eleitor pela emoção e cria um contraste nítido com o discurso da esquerda. A promessa de “mão firme” contra o crime tem apelo popular porque oferece resposta simples a um problema complexo. Em contextos de medo e descrença institucional, a força se transforma em linguagem eleitoral.

A aposta, contudo, é arriscada. Se for baseada no discurso do extermínio, a estratégia rende ganhos imediatos com a retórica da guerra, mas corre o risco de envenenar o próprio debate público e trazer de volta a famigerada proposta de intervenção total, que sempre resulta em bandeiras como intervenção militar, golpe, limitação da democracia — propostas que, a contar com o que aconteceu após 8 de janeiro, são repudiadas pela maioria dos brasileiros.

A política da força esbarra em três limites centrais. O primeiro é institucional: quanto mais o discurso da direita legitima a violência policial sem controle, mais expõe o Estado a investigações e sanções — nacionais e internacionais. A linha que separa “combate ao crime” e “execução sumária” é tênue, e atravessá-la mina a credibilidade de qualquer governo.

O segundo é eleitoral, e Cláudio Castro deveria estar atento a isso. A pauta da segurança é eficaz para mobilizar eleitores, mas não garante fidelização. O eleitorado brasileiro é volátil; se a promessa de segurança não se traduz em sensação de segurança, o discurso se volta contra quem o empunhou. Foi o que ocorreu com o ex-governador Witzel, no Rio de Janeiro, que foi eleito pela retórica da força e cassado após a realidade mostrar o fracasso prático de sua política.

O terceiro é moral e simbólico: há um ponto em que o eleitor sente que o Estado se tornou predador. A normalização de matanças gera fadiga moral e divide o campo conservador entre os que defendem a lei e os que pregam vingança. O discurso que prometia segurança começa, então, a cheirar a descontrole.

E aqui chega-se a algumas constatações com relação aos caminhos da direita. O governador Cláudio Castro lançou-se como candidato, colocou a segurança pública em primeiro plano, e sua plataforma é a linha da força pura, que seguirá a trilha do bolsonarismo raiz, transformando o crime em inimigo absoluto e o policial em herói nacional.

Mas a direita tem também outras propostas, que colocam a segurança pública como principal estratégia de campanha, mas seguindo uma linha institucional, que se diferencia pela “eficiência” e não pela brutalidade. Essa linha aposta em gestão, tecnologia e discurso de ordem racional, tentando atrair o centro. É a linha de Tarcísio de Freitas.

Já a esquerda terá o desafio de enfrentar o debate da segurança pública sem parecer complacente com o crime, ao mesmo tempo em que defende direitos humanos. Sua resposta precisa ser política, não apenas moral — ou seja, não cabe apenas defender criminosos mortos; é preciso propor reformas nas polícias, fortalecer a investigação, investir em prevenção e inteligência — mostrar que segurança também é política pública, não apenas bala.

O fato é que a segurança pública será um trunfo eleitoral nestas eleições e servirá, inclusive, para medir o humor da direita e definir o que ela realmente quer. Mas o uso da estratégia de denúncia da violência tem limite: quando a promessa de força se converte em espetáculo de morte, o discurso perde poder civilizatório. (EP – 03/10/2025)

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