quinta, 30 de outubro de 2025
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PONTE SALVADOR/ITAPARICA: UM VETOR DE TRANSFORMAÇÃO

Redação - 30/10/2025 05:00 - Atualizado 30/10/2025

Quem acompanha esta coluna sabe que ela sempre se posicionou a favor da construção da ponte Salvador/Itaparica, tanto sob o aspecto econômico e paisagístico quanto na questão urbano/regional.

Sob o ponto de vista paisagístico, a ponte vai se transformar em um cartão-postal de Salvador e, por ser estaiada, terá aproximadamente metade dos pilares da ponte Rio-Niterói. A Baía de Todos os Santos ficará muito mais linda do que, por exemplo, o Rio Tejo em Lisboa, cortado pela ponte Vasco da Gama, com 12,3 km, quase o mesmo tamanho da nossa.

Mas o principal é que a ponte Salvador/Itaparica será um vetor de transformação e  de crescimento econômico. Salvador, uma península incrustada no anel da Baía de Todos os Santos, está isolada sob o ponto de vista rodoviário, submetida a uma única saída sul, a BR-324, com todos os seus problemas já conhecidos.

A ponte vai estabelecer uma mudança radical na acessibilidade entre Salvador e o Recôncavo/Sul da Bahia e vai criar novas dinâmicas urbanas, logísticas, econômicas e turísticas, ampliando a integração regional e as relações inter-econômicas. E Salvador que, por conta desse isolamento sistêmico e de outros fatores, vem perdendo dinamismo econômico e população – representando atualmente apenas 18% do PIB da Bahia, quando em 2019 representava quase 22%, segundo o IBGE – é quem mais vai se beneficiar com o projeto.

A ponte vai estimular o crescimento econômico do nosso estado, pois cria o Sistema Viário do Oeste e desloca um pouco o eixo do dinamismo econômico, ao dar acesso direto ao mercado de Salvador a centenas de municípios, criando oportunidades de negócios e de geração de emprego e renda.  O novo sistema viário vai criar e atrair empresas de todo tipo, a exemplo de indústrias, serviços, atividades turísticas, centros de distribuição e investimentos públicos e privados.

O impacto no turismo será imediato, com a criação de novas rotas turísticas, novos serviços, ampliando o fluxo de visitantes e o investimento em hotéis, pousadas, centros de convenções e outros equipamentos. Além disso, a ponte desloca parte da atividade econômica da RMS para o outro lado da Baía de Todos os Santos e vai estimular investimentos em novos bairros residenciais, condomínios industriais e logísticos e infraestruturas turísticas.

Naturalmente, será necessário que o poder público estabeleça um zoneamento, definindo claramente o uso residencial e os demais usos, e exigindo Planos Diretores Urbanos para cada município.

A ponte vai estabelecer também uma nova estrutura logística na península de Salvador e estima-se que cerca de 20% do fluxo da BR-324 será transferido para a ponte, descentralizando em parte a concentração que hoje se verifica no início da BR-324. A ponte desembocará na Via Expressa através de um sistema de túneis e acessos bem estruturado e prevê uma alça rodoviária própria para que caminhões com contêineres acessem diretamente o porto. Caminhões com grãos ou carga geral continuarão se dirigindo ao Porto de Aratu, pois Salvador é, fundamentalmente, um porto de contêineres.

No lado da ilha, a ponte desembocará em uma área rural, sem qualquer ocupação urbana, e a BA-001, que interliga a ponte do Funil a Bom Despacho, será uma via paralela. Naturalmente, serão necessárias obras adicionais, já previstas, como a otimização de alguns trechos da Via Expressa, a duplicação da Ponte do Funil; a duplicação da BA-001 até Nazaré das Farinhas; a duplicação da BA-046 de Nazaré até Santo Antônio de Jesus e outras. Em relação ao transporte de passageiros, ônibus intermunicipais chegarão diretamente à região do comércio, com a revitalização da região, e será um transporte muito melhor que via ferry boat.

É normal que uma obra dessas gere controvérsias. Em 1869, por exemplo, muitos foram contra a construção de um modal hidráulico cilíndrico de cimento, que macularia o frontispício da bela cidade da Bahia: o Elevador Lacerda. Por isso, é bom avaliar o projeto em todas as suas nuances.

Ao que parece, com três pistas de cada lado e um sistema de pedágio direto, free flow, a ponte Salvador/Itaparica será um cartão-postal e um vetor de transformação e de crescimento econômico e oportunidade de negócios.

A PONTE, AS FINANÇAS E A ALTURA

Questionam-me sobre a altura e as finanças. O vão central estaiado da ponte Salvador/Itaparica terá 482 metros e dá para passar qualquer navio. As plataformas de petróleo também, mas precisarão baixar o flare (chaminé). O vão central da ponte de Lisboa é menor. Em relação à evolução na bacia portuária da BTS, a Marinha do Brasil já deu o OK ao projeto. Quanto ao financiamento, será feito através de uma Parceria Público-Privada patrocinada. Em projetos assim, de interesse público, o governo entra com uma contraprestação. No caso da ponte, a receita própria, tarifária, representará 70% do projeto. Várias pontes ao redor do mundo foram feitas com PPPs semelhantes.

 

Publicado no jornal A Tarde em 30/10/2025

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