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ADARY OLIVEIRA- A POLÍTICA E A TEORIA DOS JOGOS

Redação - 10/10/2022 09:21 - Atualizado 10/10/2022

Tudo na vida é um jogo e a competição está presente em todos os momentos da vida, regida por negociações, estratégias, táticas e operações. Nas nossas vidas os entendimentos entre pais e filhos começam cedo e vai mudando com o tempo à medida que a idade de cada um avança. Nas escolas vence quem tira as melhores notas e professores e alunos estão sempre sob pressão. De um lado os professores apontando os caminhos da disciplina, da dedicação aos estudos, do aprendizado. Do outro lado os alunos ansiosos pelos momentos de folga, de confraternização e de menos obrigações a cumprir. Nos esportes o desejo de vencer sempre, da manutenção da boa forma física, das disputas de posições, mas também do uso de estratégias para cada partida, de táticas específicas para cada jogo e dos movimentos logísticos em busca das melhores condições e desempenhos. Nas empresas a competição é mais acirrada e a luta pela sobrevivência permanente.

Enfim, estamos sempre jogando. Uns melhores do que os outros no cumprimento de certas funções por maior esforço e dedicação. Outros se esforçam menos por serem dotados de habilidades natas. Dizem que o espanhol Sotero Monteiro, que passou por Salvador sendo técnico do Esporte Clube Vitória, foi proprietário de hotel no Largo da Calçada e virou nome de rua na Pituba, que assim respondeu quando lhe perguntaram como era que ele escolhia um bom jogador: “Pelo arriar das malas”, ao receber os candidatos atletas quando desembarcavam na estação da estrada de ferro. As disputas, as competições, os embates, as contendas, os debates e as discussões são tão importantes no cotidiano que os cientistas não demoraram de criar o que se convencionou chamar de Teoria dos Jogos. O grande interesse pelo assunto, na economia, na administração e na política, terminou por criar uma disciplina nas universidades no mundo inteiro.

Ficaram famosas algumas aplicações da Teoria dos Jogos em vários acontecimentos históricos da humanidade. A Batalha do Mar de Bismarck, quando o alto comando de guerra japonês decidiu um maciço reforço da China e do Japão para Lae, em Papua-Nova Guiné em 1942, foi uma delas. As forças aliadas tinham apenas duas alternativas: buscar a defesa no primeiro dia na Rota Sul ou a Rota Norte. O comboio japonês, por sua vez, desejava minimizar suas perdas e para cada caminho se podia estimar os dias de bombardeio de duração da batalha. Após cálculos os aliados enviaram seus aviões para a Rota Norte, surpreendendo e vencendo os japoneses. Com esse e outros exemplos ficou provado que a Teoria dos Jogos ajuda a desenvolver a capacidade de raciocinar estrategicamente, explorando as possibilidades de interação dos agentes ao invés de se buscar a melhor solução intuitivamente.

Para proporcionar melhor compreensão da formulação da teoria, vou aqui me arriscar em duas definições. Na Teoria dos Jogos costuma-se fazer agrupamento nas seguintes situações distintas: simultâneas e sequenciais. O jogo é considerado simultâneo quando os dois contendores fazem suas jogadas simultaneamente, quando um não conhece plenamente a jogada do outro. Numa eleição os concorrentes jogam ao mesmo tempo, não sendo necessário conhecer a jogada do outro para decidir o que fazer. Já no jogo sequencial, um adversário faz seu jogo depois do outro ter feito a jogada, como no jogo de xadrez. Fica sabendo o que fez o adversário antes de jogar.

Uma aplicação simultânea interessante, que costuma atrair muitos estudiosos, é o chamado “jogo do apadrinhamento” voltada para a análise política e estritamente competitiva. É o caso, por exemplo, de dois candidatos a um cargo majoritário nas eleições de segundo turno para presidente ou governador que presenciamos agora. Os candidatos estão decidindo se se comprometem a apadrinhar seus cabos eleitorais, oferecendo a eles empregos públicos caso vençam as eleições. Se, por um lado, isso ajuda no resultado positivo, pois os cabos eleitorais se sentem mais motivados para o trabalho, por outro lado, isso desagrada os eleitores, por defenderem a eficiência e qualidade dos serviços públicos. Tais posições apresentam antagonismos que permitem formulação de um jogo, possível de ser resolvido numa tabela de avaliações.

Ficamos na torcida de que o jogo seja jogado de forma limpa e que os resultados proporcionem mais benefícios coletivos do que individuais. Difícil de acreditar, mas a esperança é a última que morre.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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