segunda, 22 de setembro de 2025
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NO BRASIL, A AÇÃO DA DIREITA É TÃO INCOMPETENTE QUE MOBILIZA A ESQUERDA

Redação - 22/09/2025 06:59 - Atualizado 22/09/2025

Milhares de pessoas foram às ruas ontem em protesto contra a chamada PEC da Blindagem e o PL da Anistia. O estopim foi a manobra dos deputados de oposição para alterar o regime de responsabilização parlamentar, criando uma espécie de escudo corporativo capaz de transformar qualquer investigação criminal contra parlamentares em objeto de autorização prévia da própria Câmara. Na prática, uma blindagem que permitiria à classe política decidir se crimes comuns — de corrupção a violência — poderiam ou não ser investigados.

Ora, tamanho despropósito causou indignação e superou o estigma da polarização. A direita brasileira pressionou o Centrão e a Câmara de Deputados e aprovou uma PEC, cujo o único objetivo era beneficiar os próprios deputados. Não é assim que se faz política, pelo contrário. A tentativa de autoproteção legislativa produziu um efeito inesperado: uniu a esquerda em torno de uma pauta comum. Diversos movimentos, partidos e coletivos que, em outras circunstâncias, divergiriam quanto a prioridades políticas, marcharam juntos contra aquilo que foi visto como uma afronta direta ao Estado de Direito e à igualdade perante a lei.

Não é a primeira vez que a oposição colhe o efeito inverso do que pretendia. Recentemente, ao adotar bandeiras estrangeiras em manifestações e até hastear a bandeira americana em atos públicos, parte da oposição transmitiu a imagem de subordinação política a interesses externos. Pior: ao aplaudir medidas de Donald Trump contra o Brasil, reforçou a percepção de que atuava contra os interesses nacionais. O resultado foi justamente fortalecer o discurso do governo e contribuir para uma melhora da popularidade de Lula, que se apresentou como defensor da soberania e da unidade nacional.

A PEC da Blindagem e o PL da Anistia seguem a mesma lógica: ações que buscam proteger a própria classe política acabam se voltando contra seus idealizadores. Em vez de garantir segurança, aumentam a desconfiança popular. Em vez de dividir a oposição e enfraquecer o governo, terminam por dar coesão à esquerda, que encontra nessas iniciativas uma causa comum.

No Brasil de hoje a ação inconsequente e equivocada de parte da direita, apoiando incondicionalmente a família Bolsonaro e seu imberbe representante e batendo o pé em pautas que só beneficiam os próprios deputados tem servido para restaurar a capacidade política da esquerda.

Em tempos de descrença institucional, movimentos de autoproteção corporativa tendem a provocar não apenas rejeição popular, mas também uma rara convergência entre forças políticas adversárias. Ao tentar se blindar da Justiça, os deputados se expõem ainda mais ao julgamento da sociedade. A história recente mostra: quanto mais se força a mão em favor de privilégios, mais forte se torna a reação democrática das ruas. (EP – 22/09/2025).

 

Foto: Crédito: Shutterstock

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