segunda, 11 de agosto de 2025
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RODRIGO BERNARDINO – TARIFAS MANTÉM INCERTEZAS PARA A LOGÍSTICA NO BRASIL

Redação - 11/08/2025 08:51 - Atualizado 11/08/2025

O recente decreto do governo dos Estados Unidos, que oficializa a aplicação de tarifas de 50% sobre uma ampla lista de produtos importados do Brasil, reacendeu a preocupação entre os setores produtivo e logístico brasileiro. Embora o documento final, assinado pelo presidente Donald Trump no dia 30 de julho de 2025, tenha trazido cerca de 700 exceções, a medida ainda representa um impacto direto sobre importantes cadeias exportadoras e, consequentemente, sobre o transporte rodoviário de cargas – elo fundamental na logística de escoamento do país.

Com mais de uma década de atuação junto ao setor de transporte de cargas e logística (TRC), tenho acompanhado de perto as decisões políticas e comerciais que influenciam o ritmo da economia brasileira e afetam, de forma direta, as operações de milhares de transportadoras e trabalhadores. Foi com esse olhar que mergulhei na análise da medida americana e em seus desdobramentos.

Entre os produtos excluídos das tarifas estão o suco e a polpa de laranja, castanha-do-brasil, petróleo, combustíveis, fertilizantes e aeronaves civis – este último item de grande importância para empresas como a Embraer. Também ficaram de fora produtos energéticos e de base florestal, como a celulose e a polpa de madeira, beneficiando indústrias como a Suzano. Esses segmentos, portanto, devem manter sua fluidez logística e competitividade, mesmo diante da instabilidade.

Por outro lado, produtos como café, carnes bovina e suína, cacau, algumas frutas tropicais e itens da indústria de base alimentar seguem incluídos na tarifa de 50%, afetando diretamente cadeias exportadoras consolidadas e com forte dependência do transporte rodoviário até os portos. O Porto de Santos, por exemplo, poderá registrar queda no volume de cargas desses segmentos já no segundo semestre de 2025, refletindo em rotas menos movimentadas, caminhões parados e pressão sobre o frete.

É importante observar que, ainda que o número de exceções tenha sido elevado, o peso econômico dos produtos atingidos permanece considerável. Segundo análises de mercado, há risco de redução na margem de rentabilidade de operações exportadoras, renegociação de contratos internacionais e suspensão de embarques – elementos que interferem diretamente na rotina logística brasileira. Com menos cargas para transportar, a tendência é de aumento do custo por quilômetro rodado, pressão sobre as margens operacionais das empresas de transporte e possível retração de postos de trabalho no setor.

Do ponto de vista institucional, entidades ligadas à indústria e ao agronegócio demonstraram preocupação com o efeito em cadeia da medida americana, que pode levar o governo brasileiro a adotar ações de reciprocidade – afetando também a importação de peças, combustíveis e insumos estratégicos para o TRC. Em um setor que já lida com desafios como o custo do diesel, a renovação de frota e a segurança nas estradas, qualquer fator adicional de instabilidade compromete não só a operação, mas também a capacidade de planejamento das empresas.

Mesmo diante da lista de exceções divulgada, o alerta continua aceso para o transporte rodoviário de cargas. A mudança no perfil das exportações para os EUA pode exigir readequações logísticas, mudanças de rotas, investimentos em novos mercados e adaptações operacionais. É um cenário que demanda diálogo, articulação e acompanhamento permanente, tanto por parte do setor público quanto das entidades representativas, que devem atuar com firmeza para mitigar os efeitos práticos da medida sobre a economia brasileira e garantir condições mínimas de estabilidade para a logística nacional.

 


Rodrigo Bernardino
Especialista em comunicação e imprensa para o setor de transporte de cargas e logística e CEO do GMI

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