A Acelen Renováveis, empresa de energia do Mubadala Capital, está selecionando pequenos e médios agricultores para o plantio sustentável de macaúba. A empresa estima um investimento de R$ 900 milhões — sendo R$ 174 milhões em recursos próprios — nas ações de incentivo ao cultivo da palmeira por terceiros. O projeto total da companhia, orçado em US$ 3 bilhões, prevê o plantio de 180 mil hectares de macaúba e produção anual de 1 bilhão de litros de combustível de aviação sustentável (SAF) e óleo vegetal hidrotratado (HVO) em Mataripe (BA), onde construirá uma biorrefinaria.
Luiz de Mendonça, CEO da Acelen Renováveis, estima que pelo menos 20% da área (36 mil hectares) será cultivada por pequenos e médios agricultores. A primeira etapa desse plantio começa agora. A empresa faz a seleção de dez famílias de agricultores para plantar macaúba. No foco, estão agricultores com áreas de pastagem degradadas, em municípios na região de Montes Claros, no norte de Minas Gerais, onde fica o Acelen Agripark, centro de inovação tecnológica agroindustrial da companhia.
“A gente vê o norte de Minas Gerais e o sul da Bahia como as regiões mais propícias para o cultivo. A procura começou pela região de Montes Claros pela proximidade com o Agripark”, afirma Mendonça. Segundo ele, a empresa tem disponíveis 1,8 milhão de mudas para distribuir aos produtores.
Além das mudas, os agricultores vão receber cursos de capacitação e suporte técnico e financeiro. “Também queremos mostrar a possibilidade de integração das florestas de macaúba com outras atividades agrícolas, como o cacau”, diz Mendonça. De acordo com Victor Barra, diretor de agronegócio da Acelen Renováveis, a empresa irá comprar toda a produção de macaúba dos parceiros a preço de mercado.
A expectativa é selecionar os agricultores neste semestre e iniciar o cultivo no início de 2026. Como a macaúba demora quatro anos até entrar em fase de produção, os agricultores receberão nos primeiros quatro anos um pró-labore, estimado em 20 salários mínimos por ano para 10 hectares cultivados com macaúba.
A Acelen contratou a FGV Europe, braço internacional da Fundação Getulio Vargas, para avaliar a viabilidade do projeto de fomento à produção com agricultores parceiros. De acordo com o estudo, para ser rentável, o produtor precisa cultivar no mínimo 10 hectares de macaúba. O rendimento anual com a produção em 10 hectares de plantio é estimado em 44 salários-mínimos por ano, ou R$ 5 mil por mês, diz Cleber Guarany, diretor associado da FGV Europe. “A partir do 14 ano, o ganho sobe para 60 salários mínimos por ano. É uma rentabilidade interessante, se considerar que a renda média do produtor familiar na Bahia é de R$ 1,2 mil por mês e em Minas Gerais é de R$ 1,8 mil”, afirma Guarany.
Victor Barra acrescenta que esse valor pode ser ainda maior, dependendo da evolução do melhoramento genético da cultura. “Estamos partindo com mudas oriundas de maciços naturais, mas temos parcerias com mais de 20 universidades no Brasil para desenvolver melhorias no rendimento da macaúba”, afirma Barra.
Sobre a biorrefinaria em Mataripe, Mendonça diz que a empresa obteve a primeira licença de implantação e deve iniciar a construção da usina no começo de 2026. A conclusão está prevista para 2028. Em maio, a Acelen começou a produzir macaúba em sua fazenda, em Cachoeira (BA). São 200 hectares, de um total de 1,5 mil hectares, que receberão 800 mil mudas de macaúba. Em julho, a Acelen Renováveis fez a emissão de R$ 500 milhões em notas comerciais privadas junto ao HSBC, no âmbito do Programa EcoInvest do Tesouro Nacional. Mendonça diz que pode participar da próxima rodada de leilão do EcoInvest com outra instituição financeira.
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