O tarifaço de Trump é um terremoto político. Ele está reconfigurando alianças políticas, testando lideranças e forçando o Brasil a escolher entre confronto e acomodação.
A população viu a imposição de tarifas como um ataque ao país e, por enquanto, o quadro conjuntural é favorável ao presidente Lula, que assumiu a defesa da soberania nacional, e ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que adotou uma postura “racional”, não critica o Supremo Tribunal Federal e advoga a negociação. Mas só por enquanto, pois, a depender do desfecho da crise, a posição do bolsonarismo, que hoje está em baixa, associado ao agressor e à defesa e submissão dos interesses do país ao interesse familiar, pode mudar.
O clã Bolsonaro, historicamente aliado de Trump e alinhado com o trumpismo, foi fortemente atingido e está sem saída: não há hipótese de a negociação incluir o fim do processo contra Jair Bolsonaro. Além disso, o ponta de lança dos bolsonaristas é Eduardo Bolsonaro, que adotou postura radical e queimou os navios, podendo sequer voltar ao país.
A única saída para o clã Bolsonaro é a aceitação da prisão do líder, que fatalmente ocorrerá e, a depender do desfecho do tarifaço, passar a defender um desses caminhos: jogar toda sua força política no nome do senador Flávio Bolsonaro como candidato à presidência ou assumir definitivamente a candidatura de Tarcísio de Freitas, ocupando a vice na chapa.
Ao que parece, só a última hipótese é viável, pois o tarifaço elevou a potencialidade de Tarcísio de Freitas, que se posiciona como uma direita moderada e está associado a uma imagem de gestor técnico e pragmático, mantendo-se distante do discurso trumpista e se beneficiando da desorganização do bolsonarismo. Os ataques que Eduardo Bolsonaro lhe dirige — por não defender Trump ou por adotar uma postura mais institucional — apenas reforçam sua posição como uma figura mais moderada, equilibrada e apta a dialogar com setores diversos, inclusive no centro.
E como o tarifaço atinge Lula? Por enquanto, o presidente colhe os dividendos políticos imediatos. A denúncia do conteúdo político, o repúdio firme, os discursos nacionalistas e a tentativa de união nacional em defesa da soberania colocam-no no centro da cena. O “tarifaço” permite a Lula tomar a narrativa patriótica dos bolsonaristas e reagrupar apoio em segmentos nacionalistas e industriais.
No entanto, essa vantagem pode ser efêmera, a depender do desfecho da crise. Há dois cenários:
No primeiro deles, Lula opta pela moderação, aceita abrir concessões no campo comercial, com redução de subsídios, cessão da exploração de terras raras, revisão de acordos e abertura do mercado brasileiro aos americanos. E faz pequenas concessões nos âmbitos político e ambiental.
Nesse cenário, a imagem de Lula como líder pragmático e equilibrado se consolida, e o Brasil se afirma como um ator racional, mesmo sob pressão.
Mas pode ser que o objetivo de Trump seja político, com a expansão da extrema-direita na América Latina — política semelhante à de Putin com a Hungria e outros países. Aí estaríamos no cenário dois.
Nesse cenário, não haveria negociação; a crise escalaria. Lula faria retaliações pontuais, com tarifas sobre produtos americanos. Trump reagiria com novas sanções unilaterais, ampliando o isolamento brasileiro. O mercado reagiria mal: dólar dispararia, investimentos recuariam, inflação cresceria.
Lula sofreria com a deterioração econômica e perderia o apoio do Centrão. A oposição de direita mais pragmática (Tarcísio) ganharia força como alternativa de “normalização”, e o bolsonarismo tentaria capitalizar o caos. Seria um cenário imprevisível, pois não se sabe como reagiria a população frente a um ataque mais ostensivo de Trump.
Não se sabe se a crise resultante das sanções americanas fortaleceria o campo político da direita, que buscaria negociar com Trump, ou se fortaleceria o nacionalismo e a luta contra o invasor, que teria como centro a figura de Lula. Não se sabe, sabe-se apenas que o desfecho do tarifaço vai mudar o quadro político no Brasil.
(EP – 28/07/2025)