Friday, 18 de April de 2025
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ARMANDO AVENA – EUA: DEMOCRACIA E LIBERALISMO

Redação - 18/04/2025 08:19

Em abril de 1775, “um tiro foi ouvido em todo o mundo”. Com essa expressão, o poeta Ralph Waldo Emerson imortalizou o início das batalhas de Lexington e Concord que deram início à guerra da Independência dos Estados Unidos. E, após vencer a guerra, as doze colônias depararam-se com a pergunta: que sistema de governo seria adotado?

Se optassem pela monarquia, teriam de colocar no trono um rei inglês, mantendo assim a dependência com o colonizador, como, aliás, foi feito no Brasil tempos depois. Então os americanos decidiram adotar a democracia como forma de governo e criaram o presidencialismo, um sistema em que o chefe de Estado e o chefe de governo são eleitos pelo povo.

Pois bem, quem diria que, duzentos e cinquenta anos depois do tiro que foi ouvido em todo o mundo, assumisse o poder nos Estados Unidos um presidente que ameaça – como já fez no seu primeiro governo quando não aceitou os resultados da eleição – destruir a democracia americana, através de ataques explícitos ao Judiciário e a preceitos constitucionais, com o aceno a um espúrio terceiro mandato.

Em 1787, os Estados Unidos adotaram como forma de organização da sociedade o liberalismo clássico, que tem na sua essência a proteção ao direito do indivíduo.  Os filósofos iluministas, especialmente John Locke, foram a base da constituição americana e não admitiam a intervenção do Estado no direito individual.

O liberalismo entende que o indivíduo precede o Estado e tem direitos inalienáveis, como o direito à vida, à propriedade e à liberdade. O homem abdicava do seu livre-arbítrio em prol de um Estado que organizaria a sociedade, mas que não poderia atentar contra os direitos básicos do indivíduo.

O homem aceitava o domínio do Estado, mas sem  perder a liberdade civil e econômica, que lhe garantia adotar a religião que quisesse, identificar-se com o gênero sexual que desejasse e comerciar com quem achasse que seria mais proveitoso. Estava instituído o domínio da lei e o estado vai impedir que se atente contra a vida, a propriedade e o comércio livre, mas, sob o domínio da lei, as escolhas dos indivíduos são soberanas.

Pois bem, mais de duzentos anos após ter sacramentado o liberalismo, assumiu o poder nos Estados Unidos um presidente que quer impor ao indivíduo religião, gênero, cultura e justiça, num atentado frontal contra a liberdade civil. E, contra todos os ditames do liberalismo econômico, quer impor, de forma intimidatória, tarifas absurdas, negando a história americana construída na base do estímulo à liberdade de iniciativa.

Donald Trump quer destruir a democracia e a liberdade civil e econômica na América. Mas não passará: terminará por sucumbir à sentença atribuída a Abraham Lincoln:  Você pode enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas não pode enganar todas as pessoas o tempo todo.

Publicado no jornal A Tarde em 18/04/2025

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