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ARMANDO AVENA: A DEGRADAÇÃO DA CULTURA E DA POLÍTICA

Redação - 09/11/2018 07:55

Há algo estranho ocorrendo na cultura e na política brasileira. Na política, o país passou, e talvez ainda esteja passando, por uma fase de deterioração dos valores democráticos, com dezenas de políticos usando o Estado em benefício próprio, com os partidos se apoderando das estruturas da máquina pública e com a população ocupando trincheiras nas redes sociais numa luta entre esquerda e direita. Na área cultural, o que se constata é a perda de qualidade da produção artística, provavelmente resultante  da simbiose perversa entre a política e a cultura e da disseminação na mídia de elementos culturais de baixo padrão.

Na música e na literatura é imediata a constatação do baixíssimo nível de produtos que tomaram conta das livrarias e dos meios de comunicação. Para os  amantes da literatura, por exemplo, dá tristeza  ver que nas livrarias de hoje só quem vende livros são artistas, blogueiros, especialistas em autoajuda ( tipo: “Seja Foda”, “Ligue o Foda-se”) e enlatados estrangeiros.  Para o amante da música de Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Chico Buarque e tantos outros, dá pena constatar que a poesia foi expulsa das composições, que as letras tornaram-se redações, discursos e perorações dignas de colegiais e que são coladas a facão em músicas de harmonia primária, sertanejo ou funk,  cujos acordes são emitidos por empresários.

São muitos os argumentos que explicam queda na qualidade artística e um deles é, sem dúvida, a política cultural brasileira que nos no últimos 16 anos passou a ser pendular, destinando todos os recursos  para artistas já famosos, que não precisam de subsídios do estado, ou para os famigerados editais que financiam a mediocridade com o  argumento capcioso de que todo mundo pode ser artista e de que tudo pode ser arte. Assim, a música e a literatura no Brasil estão perdendo qualidade e a deterioração é semelhante em outras áreas como o teatro, o cinema, a dança  e a preservação do patrimônio. A degradação cultural é fruto também da carência educacional e do baixo nível de informação e conhecimento da população que, massificada pela mídia, já não identifica o que é verdadeiramente arte e talento.

O mais interessante é que o mesmo processo de desinformação se verifica no campo das ideias políticas, onde a falta de conhecimento é total e ninguém sabe mais o que é liberalismo ou socialismo, tampouco o que é esquerda ou direita, e, por isso, o palco moderno do processo político – as redes sociais – tornaram-se um reduto de gritos e imprecações, de ódios e afetos fanáticos  e das fakenews que contribuem ainda mais para a desinformação geral. Nas redes sociais afirma-se, por exemplo, que o Brasil estava optando pela esquerda, mas ninguém sabe realmente o que é esquerda, e ninguém diz que um partido que fez da corrupção seu “modus operandi” não pode ser considerado de esquerda e está mais perto dos métodos de uma organização criminosa do que do receituário esquerdista.

Nas redes sociais diz-se agora que o Brasil optou pelo liberalismo, mas ninguém diz que que o verdadeiro liberalismo tem como dogma o direito do indivíduo de fazer escolhas individuas – de, por exemplo, ser religioso ou não, ser homossexual ou não, etc – sem que o estado se envolva nessas questões. O que um professor diz na sala de aula, o que um sacerdote diz na Igreja ou o que um jornalista diz no jornal não pode ser monitorado pelo estado, é objeto apenas da sociedade, ou do sistema jurídico se ele for acionado. Quando o estado se intromete nesses assuntos está flertando com a censura, impedindo a diversidade e o exercício do contraditório e querendo impor uma visão de mundo e aí a democracia começa a correr riscos.  Os valores democráticos no Brasil foram corroídos pelos políticos corruptos de vários partidos que, capitaneados pelo PT, saquearam o estado brasileiro. Mas isso não justifica uma polarização burra entre esquerda e direita, especialmente quando o partido que se diz de esquerda corrompe e aparelha a máquina pública e o partido que se diz de direita liberal pretende intervir e controlar os direitos do individuo, quebrando um dogma do liberalismo.

O problema do Brasil não tem relação com esquerda ou direita, ou com aqueles que defendem liberalismo ou socialismo – na Europa, por exemplo, essas correntes se revezam no poder –, o problema são os políticos corruptos, os partidos de aluguel, o uso da política para o enriquecimento pessoal ou para a manutenção do poder partidário. Dito isso, resta um consolo, pois as instituições brasileiras parecem sólidas e capazes de proteger a constituição, seja qual for o partido que esteja no poder. Na política essa é a alternativa, já na cultura o caminho é mais árduo.

                                        O MINISTRO E O PRESIDENTE

Paulo Guedes, o superministro da economia escolhido pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, tem nome, sobrenome e marca. O nome é liberalismo, o sobrenome é privatização e a marca é a dos “Chicagos Boys”. Isso significa que Guedes tentará implementar no Brasil uma política liberalizante de forte conteúdo privatista e baseado nas ideias da escola de economia da Universidade de Chicago, na qual ele fez mestrado e que tem como guru o economista Milton Friedman. Essa escola tem como base retirar o estado da economia e estabelecer o livre mercado, ou seja, eliminar os entraves ao livre-comércio, inclusive as tarifas de importação, o que vai obrigar as empresas brasileiras a viver sem as “mamatas do Estado” e ter competir no mercado internacional. O primeiro sinal dessa política foi a subordinação do Ministério da Indústria e Comércio Exterior ao Ministério da Fazenda.  O problema é que existe  uma contradição entre essas propostas e as ideias do Presidente eleito Jair Bolsonaro, que pretende, como Donald Trump, preservar as empresas brasileiras, privatizar, mas nem tanto e abrir o mercado, mas não a ponto de que haja uma inundação de importados. A  dúvida é se essa contradição será superada e se será Bolsonaro ou Guedes aquele que vai rever os conceitos.

                                                            BOM PARAO TURISMO

Ano passado a Bahia recebeu cerca de 100 mil turistas argentinos e o anúncio da Secretaria do Turismo de que haverá mais um voo saindo de Salvador com destino a Rosário na Argentina, além dos que já existem para Buenos Aires e Córdoba, é alvissareiro. Alvissareiro também foi a inauguração pela Prefeitura de Salvador da Vila Jardim dos Namorados, nos mesmo moldes da Vila Caramuru, no Rio Vermelho.  Apesar da sua imensa orla, Salvador tem pouco espaços de  gastronomia, de lazer e entretenimento que ficam de cara para o mar.

                                                             FORMAÇÃO DO GOVERNO

“O melhor governo é aquele em que há o menor número de homens inúteis”, assim dizia Voltaire. E a máxima vale para o presidente eleito Jair Bolsonaro, que está montando seu governo, e para muitos governadores que, pelo Brasil afora, que estão montando ou reformando o secretariado.

 

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