Em artigo publicado no JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO, de 23 de março último, o renomado economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MBAssociados, afirmou que a safra 2024-2025 será grande, da ordem de 330 milhões de toneladas de grãos, e que o agronegócio contribuirá positivamente para o esperado crescimento do PIB no primeiro trimestre do corrente ano, além de aliviar um pouco a inflação de alimentos, que deve ficar na casa dos 6% este ano ante 8,2% verificados no ano passado.
As margens de ganhos serão satisfatórias, por conta dos custos e também pela existência de um cenário de escassez global e altos preços em alguns casos, a exemplo do café, laranja , cacau e certos tipos de carnes. Como a economia mundial deve desacelerar por conta das medidas do governo Trump, os preços agrícolas podem ficar contidos, com as exceções mencionadas acima. Segundo Mendonça de Barros , a pergunta que se coloca é se haverá chance, mais uma vez, de que retaliações no cenário de guerra comercial voltem a se traduzir em demandas adicionais para o agronegócio brasileiro, a exemplo do que ocorreu no primeiro mandato de Trump. A resposta do ilustre economista é positiva , pois outros países e regiões , além da China, colocarão barreiras comerciais a produtos dos EUA, em caráter de retaliação.
Vejamos alguns exemplos de possíveis efeitos positivos para o agro nacional.
Como se sabe, os EUA impuseram uma tarifa de 10% para o Brasil, o menor patamar, e de 34% para os produtos da China, que, ato contínuo, fixou taraifas de igual valor para as importações de produtos norte-americanos.
As primeiras avaliações dão conta de que, nesse contexto, a China pode trocar a soja e outros grãos pelos grãos exportados pelo Brasil. Nessa linha de argumentação, a escalada tarifária tende a mudar a dinâmica global dos preços e dos fluxos de comércio, fazendo com que a China redirecione para o Brasil parte de sua demanda antes preenchida pelas vendas externas dos EUA de grãos, carnes, algodão e outros itens, acentuando ainda mais a concentração das exportações brasileiras para o mercado chinês. Cerca de 75% soja vendida atualmente pelo Brasil para o exterior vai para os portos chineses.
No caso das carnes, os EUA não vendem tanto carne bovina para a a China, mas eles concorrem conosco em termos de vendas de carne de frango e suína no mercado externo, incluindo o mercado da China. Analogamente, a expectativa aqui é que a China passe a comprar mais a carne de frango e de porco de origem brasileira , deslocando as vendas norte-americanas para os asiáticos. Outros mercados e países poderão ser acessados pelos ´produtos brasileiros, pois espera-se que eles venham a retaliar as medidas do governo norte-americano . Algumas análises inclusive sustentam que a assinatura do Acordo Mercosul- União Europeia possa ser acelerada , em face do novo contexto desencadeado pelo governo Trump.
No caso da tarifa menor, de 10%, que incidirá para os produtos brasileiros, poderá inclusive haver ganhos para o Brasil no mercado dos EUA. Vejamos o caso do café a respeito.
Brasil, Colômbia, Vietnã e Indonésia, em ordem decrescente, são os maiores exportadores de café para os Estados Unidos. O café brasileiro entra nos EUA com tarifa zero, mas com a nova alíquota, de 10%, as vendas brasileiras entrarão no mercado americano em vantagem com o produto do Vietnã E DA indonésia, que tiverm tarifas de 46% e 32%, respectivamente. A Colômbia terá os mesmos 10% aplicados ao Brasil, mas temos vantagens de custos e escala frente aos colombianos, razão pela qual nossa participação no mercado dos EUA é de 32% ante 20% da Colômbia . O crescimento das vendas brasileiras deve se dar mais no café robusta, produzido nos paises asiáticos citados acima, usualmente utilizado em blends pela indústria.
Finalmente, é oportuno lembrar que esses possíveis efeitos positivos não devem arrefecer o esforço de conquista de novos mercados pelo Brasil, a exemplo dos acordos firmados com o Japão e Vietnã em recente viagem de Lula , ministros e empresários a esses países, para exportação de carnes e outros produtos.