Li outro dia que o bilionário americano Bryan Johnson está em busca da imortalidade e faz isso tentando reverter a sua idade biológica. Ele gasta cerca de US$ 2 milhões por ano, ingere dezenas de suplementos diariamente, faz exercícios de alta intensidade, ressonâncias magnéticas mensais, recebe sangue do próprio filho, dorme cedo e sempre sozinho, não bebe, não come gordura, carne ou doces.
Francamente, é muito sacrifício para pouco gozo; afinal que graça tem ser imortal com tanta moderação? Convém ser moderado em tudo, até na moderação, diz a sabedoria.
Acho que vida de bilionário deve ser um tédio, afinal, eles vivem ocupados com projetos bizarros como colonizar Marte, ver a mãe Terra do espaço ou ir ao fundo mais profundo do mar com um submarino que pode implodir e lhes dar apenas uma sepultura de água salgada.
Mas são muitos os bilionários – talvez por medo da morte, por desejo de viver para sempre ou por não querer abandonar seus bilhões – que investem maciçamente na busca pela imortalidade. Um deles, Dmitry Itskov , busca a imortalidade cibernética. Ele pretende criar um avatar e transportar todo o conteúdo do seu cérebro para um corpo artificial. Crê que com um download da sua mente, alcançará a imortalidade. Aliás, existe um movimento, que se autodeclara filosófico, chamado de transumanismo, que prega, em última análise, a busca da imortalidade por meio da fusão entre o homem e a tecnologia.
Tentar ser imortal, admito, é mais interessante do que construir bunkers no deserto à espera do apocalipse ou da guerra nuclear, outra fixação dos bilionários. Não porque a vida seja essa maravilha toda, mas porque a alternativa não entusiasma ninguém.
Mas morrer não é tão ruim assim, dirão alguns, aventando a possibilidade de vida após a morte. É possível, mas é pura conjectura. E cuidado, companheiro, como diria o poeta Vinicius de Moraes: a vida é uma só, e para acreditar em outra é preciso “certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo: Deus. E com firma reconhecida”.
É compreensível o desejo de não morrer, e até este escriba, ao começar a fazer literatura e buscando homenagear os autores góticos e o realismo fantástico, escreveu um livro cujo personagem busca de forma insólita a imortalidade, e diz: “A morte é um fenômeno absurdo que contraria a suposta perfeição da natureza. É inconcebível que após preparar o homem durante anos, após fazê-lo acumular incessantemente informação e experiência, a natureza destrua de repente esse manancial de conhecimento e adaptabilidade.” Felizmente, a crítica entendeu que a busca do autor não era pela imortalidade, mas pela literatura.
A busca pela imortalidade é própria do homem e é o tema da Epopeia de Gilgamesh, obra que inaugura a literatura, mas, por enquanto, estamos sob o signo da sentença de Shakespeare: “Devemos uma morte a Deus.”
Publicado no jornal A Tarde em 04/04/2025