O desabamento parcial do teto da Igreja de São Francisco, a “igreja de ouro”, em Salvador, consternou a todos, ainda mais por ter tirado a vida de uma jovem que ali estava para conhecer a nossa cidade. Mas foi uma crônica anunciada, afinal já se sabia que isso poderia acontecer, como outros acidentes semelhantes podem ocorrer em outras igrejas e imóveis do Centro Histórico de Salvador.
Não podemos esquecer que a cidade da Bahia tem 365 igrejas, talvez mais, e todas elas, que contam um pouco da história do nosso povo e a história particular de cada um, precisam ser preservadas.
Se uma das mais belas expressões do barroco brasileiro, uma das mais singulares igrejas do mundo, icônica por sua talha dourada e indicada na eleição das sete maravilhas do Brasil foi abandonada a ponto de seu teto desabar, imagine o pode acontecer nas demais igrejas de Salvador.
O patrimônio arquitetônico da capital primaz do Brasil é um bem cultural do povo o povo brasileiro e é inconcebível que uma joia desse patrimônio tenha desabado e, suprema ironia, no ano em que Salvador celebra os 40 anos do reconhecimento de seu centro histórico como patrimônio cultural mundial pela Unesco.
Em Salvador, existem 3 mil imóveis tombados no centro histórico e muitos outros que, embora não tombados, fazem parte do conjunto arquitetônico. No total, ao menos 2,7 mil casarões e outras construções correm o risco de desabar, 15% a qualquer momento.
Aqui é preciso parar para perguntar: quem são os responsáveis pela preservação do patrimônio arquitetônico de Salvador? Diferentes instituições em níveis federal estadual e municipal tem essa função, a exemplo do o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), responsável pela preservação de bens tombados em nível federal, como o Pelourinho, o Centro Histórico e as igrejas coloniais; do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), que deve cuidar dos casarões e monumentos históricos tombados no âmbito estadual; e a Fundação Gregório de Mattos (FGM) –responsável pelo bens municipais tombados e pela revitalização.
O problema é que essas instituições não possuem um plano integrado de revitalização, não têm recursos nem pessoal suficientes, nem coordenação para agir conjuntamente. Falta a definição objetiva de prioridades, uma ação mais efetiva na busca recursos em organismos internacionais – que certamente estarão disponíveis, pois se trata de proteger um patrimônio da humanidade –, e mais efetividade na busca de empresas e instituições que possam contribuir para a manutenção do nosso centro histórico.
É, sem dúvida, um problema complexo que necessita tornar-se uma prioridade. Por isso, enquanto o poder público não assumir essa responsabilidade e investir na preservação do patrimônio histórico de Salvador, só nos resta pedir ajuda a São Francisco.
Publicado no jornal A Tarde em 07/02/2024