A maior festa popular do Brasil terminou com um saldo positivo para a sustentabilidade. Durante os seis dias de folia, 420 catadores e catadoras de materiais recicláveis em situação de rua atuaram no circuito Barra-Ondina e recolheram mais de 13 toneladas de resíduos. O trabalho desses profissionais garantiu renda para centenas de famílias e reforçou a importância da economia solidária.
A ação reuniu catadores de 50 municípios baianos e até de outros estados, como o Pará, evidenciando o impacto e a abrangência desse trabalho. O programa Eco Folia Solidária, desenvolvido em parceria com o Governo do Estado e organizações como a Federação de Catadores e Catadoras da Bahia, foi essencial para oferecer suporte logístico, equipamentos de proteção individual (EPIs) e garantir melhores condições de trabalho.
Além do circuito Barra-Ondina, o programa atuou em diferentes pontos da cidade e, ao todo, retirou das ruas 170 toneladas de resíduos recicláveis durante o Carnaval. Os catadores receberam valores diferenciados pelos materiais coletados: a cada 20 kg de garrafas PET, ganhavam 70 reais; a cada 10 kg de plástico, 60 reais; e a cada 12 kg de latinhas de alumínio, 120 reais.
Para muitos trabalhadores, essa renda representou uma oportunidade de melhorar as condições de vida. “No ano passado, comprei uma geladeira. Este ano, vou conversar com minha esposa para decidir como investir, mas com certeza esse dinheiro vai ajudar muito nas nossas necessidades”, afirma Luiz Carlos, catador de Alagoinhas (BA).
Para Annemone Santos da Paz, presidente da Federação de Catadores e Catadoras da Bahia, os números demonstram o esforço coletivo e a necessidade de reconhecimento da categoria. “Nós ajudamos a manter a cidade limpa e movimentamos a economia solidária. Com investimento e organização, conseguimos dar dignidade ao trabalho e ampliar a reciclagem no Carnaval. Afinal, coleta seletiva sem catador é lixo!”
Apesar dos avanços, ainda há desafios a serem superados. A assistente social Márcia Maciel ressalta que é fundamental ampliar o apoio e a estrutura para os trabalhadores. “Tivemos avanços, mas os catadores precisam de mais suporte durante os seis dias de festa, como banheiros mais acessíveis, alojamentos adequados e espaços de diálogo antes da folia. O reconhecimento do trabalho deles deve acontecer o ano inteiro, e não apenas no Carnaval.”
A professora de Direito da Uneb e fundadora do Jus Esperança, Anhamoná Brito, reforça a necessidade de um compromisso contínuo com essa população vulnerável. “As vulnerabilidades de catadores e catadoras em situação de rua não terminam com o Carnaval. Temos uma política nacional de trabalho digno para pessoas em situação de rua que precisa ser priorizada e, infelizmente, ainda não está na linha de atenção do governo estadual. Por isso, tanto o Jus Esperança, quanto a Universidade do Estado da Bahia, têm se mantido firmes em apoio a este segmento populacional estratégico.”
Agora, a Federação de Catadores e Catadoras da Bahia espera que essas iniciativas sejam ampliadas, garantindo melhores condições de trabalho e mais visibilidade para os catadores ao longo de todo o ano.