No final dos anos 90, quando a “axé music” atingiu seu auge e o carnaval de Salvador tornou- se a festa mais desejada pelos brasileiros, escrevi um artigo, intitulado “ A Economia do Axé”, no qual afirmava que o carnaval de Salvador havia, finalmente, se rendido ao capital tornando-se, além de uma maravilhosa explosão de alegria e prazer, uma atividade econômica de porte.
Em 2025, quando se comemora 40 anos do Axé, o carnaval já é vital para a economia soteropolitana não apenas por sua capacidade de atrair milhares de turistas e pela geração de emprego e renda, mas principalmente porque essa economia se desdobra em vários segmentos. E, assim, a maior parte da matriz econômica da cidade é estimulada pela festa, envolvendo não só o segmento turístico e de entretenimento propriamente dito, mas também o setor de bares e restaurantes, o segmento imobiliário, a produção de vestimentas e adereços, transporte, alimentação, segurança e todo o espectro do setor de serviços.
Este ano, o carnaval de Salvador 2025 deve gerar uma movimentação financeira da ordem de R$ 2 bilhões, representando cerca de 15% da receita de R$ 12 bilhões gerada pela festa no Brasil, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Este ano, a cidade deve receber cerca de 850 mil turistas, um aumento de 6,6% em relação ao ano passado, segundo o Observatório do Turismo da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo e, embora mais da metade desse total seja de baianos vindos do interior do Estado, ainda assim é uma movimentação de peso.
E já sabemos que entre os turistas extra-estaduais, a maioria vem de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais com maior capacidade de gasto diário que outros estados. Aqui cabe perguntar: que outro evento é capaz de movimentar tal montante em pouco mais ou menos de sete dias? E, além disso, vale ressaltar a importância da festa para a população mais pobre que encontra trabalho neste período e estima-se que 200 mil vagas de emprego serão geradas. O número inclui, provavelmente, toda a cadeia de emprego informal que a festa viabiliza, incluindo os milhares de vendedores ambulantes que vendem todo tipo de produto.
A Prefeitura de Salvador não informou o valor das receitas de patrocínio auferidas com a festa, mas estima-se que foram superiores a R$ 60 milhões, o que faz do carnaval um evento superavitário. Entre as empresas que compraram cotas está a Ambev, patrocinadora oficial, conforme contrato vigora até esse ano, além do Mercado Pago, que aumentou sua cota, sendo patrocinador pelo segundo ano consecutivo. Além desses, está o iFood e outras empresas que completam o leque de patrocinadores.
Em resumo: pode-se afirmar que, ao completar 40 anos de Axé, o Carnaval de Salvador está em constante transformação e tornou-se um evento gigante que mobiliza toda a cidade, gera milhares de empregos temporários e movimenta milhões de reais, além de trazer para a ruas a alegria que é marca registrada do povo da Bahia.
BAHIA: PARA FICAR MAIS COMPETITIVA
Estão previstos para este ano e para 2026 leilões de projetos de concessão de rodovias e ferrovias para a Bahia. Trata-se da rodovia BR-116 no, que liga Feira de Santana a Salgueiro em Pernambuco, e a chamada Rota do Recôncavo, composta pela BR 324, ligando a Salvador e Feira de Santana, e daí com a BR 116 seguindo até a divisa entre Bahia e Minas Gerais. Haverá também os leilões dos trechos dois e três da Ferrovia Oeste Leste, que entroncará com a Ferrovia do Centro-Oeste. E a renovação ou um novo leilão do Corredor ferroviário Minas/Bahia da FCA – Ferrovia Centro Atlântica. A Bahia precisa se unir em torno desses projetos, para tornar competitiva sua economia.
TURISMO E MOEDA VALORIZADA
O peso argentino valorizou 150% em relação ao real desde o final de 2023. É ruim para a Argentina. Isso está fazendo os argentinos gastarem seu dinheiro comprando produtos no Brasil. E trazendo milhares de turistas. Moeda valorizada só serve para encarecer as exportações e estimular viagens ao exterior. Salvador e Porto Seguro têm recebido milhares de argentinos. O número de aviões saindo de Salvador para a Argentina aumentou em mais de 80% no último trimestre, em relação a 2023, segundo a Anac. Estima-se que a movimentação de passageiros atingiu cerca de 23 mil pessoas. Esses números poderiam ser bem maiores se houvessem campanhas publicitárias vendendo a Bahia aos argentinos.
Publicado no jornal A Tarde em 20/02/2025