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ADARY OLIVEIRA – OS DESAFIOS DA INDÚSTRIA QUÍMICA

Redação - 27/01/2025 05:00

A indústria química nacional tem enfrentado desafios difíceis de serem superados ao longo dos anos e a situação não tem dado sinais de melhoria, ao contrário, tem-se agravado. A dificuldade que tem sido apontada como de maior envergadura é a falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) que limita a capacidade das empresas de inovar e se adaptar às novas demandas do mercado, como a sustentabilidade e o desenvolvimento de produtos mais avançados.

Esses desafios precisam ser superados para ela se tornar mais competitiva internacionalmente. Alguns deles são bastante conhecidos e vale a pena lembrá-los no ano que se inicia.

O custo de energia segue como carro chefe. O Brasil apresenta custos elevados de energia, o que impacta diretamente a produção e a competitividade das indústrias químicas, que são intensivas em energia. Lembro-me de um projeto da Rio Tinto que pretendia se instalar na região de Jaguaquara, BA para explorar uma mina de bauxita com 300 km de comprimento por 30 km de largura. A concentração do minério e a manufatura de alumina seriam na Bahia, mas teria de instalar a usina do alumínio no Paraguai devido ao preço elevado de energia elétrica.

A infraestrutura de transporte e logística no Brasil ainda é por demais deficiente. Isso dificulta a distribuição de matérias-primas e produtos acabados, aumentando os custos e os prazos de entrega. O Porto de Salvador aumentou substancialmente a movimentação de carga devido a construção do terminal de contêineres, ainda em fase de ampliação, mas o Terminal de Granéis Líquidos do Porto de Aratu-Candeias representa um dos maiores gargalos da indústria petroquímica local.

A construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) continua se arrastando mais que lentamente, retardando a implantação de vários projetos de exploração mineral e mantendo o transporte de grãos e algodão produzidos no Oeste pela Rodovia BR-242, a custo bem mais elevado.

A complexidade do sistema regulatório e a burocracia são os principais espantalhos dos novos investimentos e representam obstáculos significativos para a operação das empresas, aumentando o custo de conformidade e o tempo necessário para a introdução de novos produtos no mercado.

No que se refere à competição internacional a indústria química brasileira enfrenta forte concorrência de países com custos de produção mais baixos e políticas de incentivos tributários e creditícios mais favoráveis, como os Estados Unidos e a China. No caso da indústria petroquímica fez-se a escolha, acertada na época de sua fundação, de plantas de dimensões ajustadas ao mercado nacional, trazendo consigo os elevados custos de escala de uma indústria intensiva em bens de capital.

Em relação ao suprimento de matérias-primas muitas indústrias químicas no Brasil dependem de importações, o que pode torná-las vulneráveis a flutuações de preços e problemas de abastecimento. No caso da petroquímica, só a central dos produtos básicos de São Paulo tem abastecimento de nafta feita por refinarias brasileiras. As demais importam cerca de 40% da nafta. Vale o registro de que na época da implantação da indústria petroquímica a escolha da rota via nafta era quase compulsória, pois a outra matéria-prima, o gás natural rico em etano, não era disponível em volume requerido pelas centrais. Isso terminou acarretando uma dificuldade na competição internacional, pois o preço da nafta subiu com o petróleo e o aumento da oferta de gás natural fez seu preço cair.

Faz sentido aditar que a crescente demanda por práticas sustentáveis e produtos químicos “verdes” exige que as indústrias se adaptem rapidamente, o que pode ser um desafio para muitas companhias. Também o fato do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sendo o principal financiador dos empreendimentos e dos acionistas, exigia que as empresas tivessem capital de maioria nacional, como também que as sociedades possuíssem comando e controle nacionais, o que colocava as grandes organizações internacionais do outro lado nas competições mercadológicas.

Superar esses desafios requer um esforço conjunto dos setores público e privado, com foco em políticas que incentivem a inovação, a melhoria da infraestrutura e a redução dos custos operacionais. Enquanto isso não acontece de modo satisfatório estaremos assistindo ao aumento das importações de produtos e fechamento de fábricas.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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