O ano de 2025 começa sob o signo da incerteza, e sequer posso dar ao leitor o beneplácito da esperança. “Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate”, diria Dante, se estivesse a viver os primeiros dias de 2025. Dias em que se vê o CEO de uma das maiores empresas de informação do mundo, dona do Instagram, do Facebook e do WhatsApp, acabar com o programa de checagem de fatos da companhia, a única possibilidade de conter a disseminação de desinformação que grassa nas redes sociais.
A rede X, de Elon Musk, já faz isso, e outras big techs devem seguir pelo mesmo caminho, estabelecendo que a mentira, hoje alcunhada de fake news, pode ser o material com o qual as redes sociais – a imprensa do século XXI – vão noticiar o que se passa no mundo.
Hannah Arendt, que, em seu livro As Origens do Totalitarismo, fez a gênese dos ditadores, fossem eles de esquerda ou de direita, ficaria estarrecida e novamente diria: “Se todo mundo sempre mentir para você, a consequência não é que você vai acreditar em mentiras, mas sobretudo que ninguém passe a acreditar mais em nada”. Para, então, concluir: “E um povo que não acredita mais em nada não pode tomar decisões. Ele é privado não apenas da sua capacidade de agir, mas também de sua capacidade de pensar e julgar. E com esse povo você pode fazer o que quiser”.
“Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate”, diria Dante, se estivesse a viver os primeiros dias de 2025. Dias em que se verá assumir o poder, na maior potência do mundo, um homem em tudo semelhante aos ditadores que Hannah descreve e que, com retórica semelhante, pode levar o mundo ao caos.
E há quem, ingenuamente, me diga que, às vezes, é necessário um lobo para pôr ordem entre as ovelhas, como se o lobo estivesse interessado em algo que não fosse o seu poder e a capacidade de fazer o que bem entender com as ovelhas. Esse lobo já fala em usar o poder econômico e militar para tomar o canal do Panamá, anexar o Canadá e comprar a Groenlândia, pois são vitais para a segurança econômica dos Estados Unidos. Bem parecido com Hitler justificando a invasão da Polônia e dos Sudetos em nome do Lebensraum, o espaço vital que os alemães diziam necessitar para viver e prosperar.
Há quem diga que a democracia americana é sólida e que suas instituições impedirão os arroubos ditatoriais e nacionalistas de Trump. Talvez. Mas não posso acenar ao otimismo quando vejo quem foi nomeado para gerir o país. Aliás, já em outubro, aqui mesmo neste espaço, este cronista desconfiava do otimismo dos que afirmavam que Kamala Harris venceria e temia, ou previa, a vitória de Trump.
E, agora, lembro novamente de Hannah Arendt para dizer: “Quando o poder se torna o único objetivo, a destruição do outro se torna justificável”. E como o poder é o único objetivo de Trump, o que de melhor posso dizer ao leitor é que 2025 será o ano da incerteza.
Publicado no jornal A Tarde em 10/01/2025