Roberto Mangabeira Unger nasceu no Rio de Janeiro em março de 1947 e foi criado em Nova Iorque, Estado Unidos, para onde foi levado aos quatro meses de idade. Ele é filho do advogado alemão Arthur Unger e de Edyla Mangabeira, filha do engenheiro baiano Otávio Mangabeira, professor, governador, senador, chanceler e ministro. Aprendeu a falar ouvindo a mãe em português e inglês de brasileira, e com o pai o inglês de alemão, o que lhe conferiu um português com sotaque carregado. Tive oportunidade de ouvi-lo pessoalmente na Associação Comercial da Bahia quando era seu presidente. Mangabeira Unger é um filósofo, jurista e político, muito conhecido por suas propostas inovadoras para o desenvolvimento do Brasil, tendo sido o mais jovem professor da Universidade de Harvard.
Unger defende uma transformação econômica que promova maior igualdade e inclusão social que estimule o pensamento crítico e a criatividade, além de promover uma cultura que valorize a diversidade e a inovação. Na minha opinião a proposta é muito boa, mas como fazer isso. O mês de janeiro está logo ali, pouco depois do Natal, e os pensamento dos políticos estará voltado para a sua permanência no poder, já que se terá nova eleição para presidente, governadores, deputados e senadores no ano seguinte. Ninguém pensa em mais nada. As despesas aumentando e superando as receitas, mesmo que extraordinárias, e nada se vê que reduza a pobreza, atenue as desigualdades e promova a inclusão social. Até que existem bons projetos onde se vislumbra o aumento da riqueza e do emprego, mas nada que mostre claramente que vai haver melhor distribuição de renda.
Sobre a educação e cultura Unger enfatiza a importância de uma educação de qualidade e acessível, que estimule o pensamento crítico e a criatividade, além de promover uma cultura que valorize a diversidade e a inovação. Há alguns anos fui contratado para lecionar a disciplina Pesquisa Operacional para uma turma de quinta série de um curso de Administração. Ao perceber que os alunos não conseguiam acompanhar o que eu estava ensinando, comecei a fazer uma revisão dos conceitos básicos de matemática. No primeiro intervalo de aula fui procurado por uma aluna que me confessou ter assistido a uma aula de matemática pela primeira vez. O problema é que a matemática estava reprovando muita gente e para resolver o problema tiraram a matemática do currículo escolar. Concordo com Unger, principalmente quando ele enfatiza a educação de qualidade e esse é um problema de fácil solução.
Unger sugere a necessidade de uma reforma política que permita uma maior participação popular nas decisões governamentais, incluindo mecanismos de democracia direta e maior transparência. Considero esta frase muito bonita e muito bem elaborada, mas como fazer isso no Brasil. A população tem em primeiro lugar a obrigação de suprir suas necessidades básicas de comer, vestir, morar e viver com saúde para depois pensar em outras coisas. Não dá para pensar em participação, em transparência e em democracia antes de resolver isso.
Mangabeira propõe um investimento significativo em pesquisa e desenvolvimento, com o objetivo de impulsionar a inovação tecnológica como motor do crescimento econômico e da competitividade. Deposito muita esperança nos projetos de geração de energia eólica e solar fotovoltaica, fabricação de álcool a parir do sisal, do milho, da mandioca e de matérias celulósicas, e da irrigação de cana-de-açúcar por gotejamento subterrâneo, bem como da extração de óleo vegetal da macaúba e do ouricuri. Contudo, apesar de serem projetos inovadores e liderados pela iniciativa privada, ainda não demonstraram convincentemente seu alcance na distribuição de renda e inclusão social.
Outro ponto defendido por Unger é relativo à questão da sustentabilidade com políticas que integrem o desenvolvimento econômico e proteção ambiental. Considero importante, mas não posso deixar de dar minha opinião que a ênfase na proteção ambiental não deve proibir ações que promovam o desenvolvimento. Muitas vezes os profissionais abrigados nas várias posições que trabalham em defesa da proteção ambiental cometem excessos e terminam por retardar ou mesmo impedir que se avance nas medidas que podem eliminar a desumana pobreza.
A visão de um Brasil mais justo, igualitário e inovador do Unger objetiva transformar a sociedade e é bom que mais pessoas se dediquem ao assunto. O planejamento de ações voltadas para o desenvolvimento tem andado esquecido no Brasil e a política não pode se ocupar de luta pelo poder e sua conquista via eleições, para se ficar desfrutando das benesses do poder sem nada fazer em prol do desenvolvimento.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]