Quem segue esta coluna sabe que aqui os números são os senhores da razão. E os números pioraram no mês de outubro, especialmente os relacionados à inflação e ao câmbio. A situação ainda está sob controle, mas tornou-se imperativo para o governo fazer um corte de gastos significativo.
A inflação, que havia crescido 0,44% em setembro, elevou-se em 0,56% em outubro, segundo dados do IBGE. Com isso, a inflação acumulada do ano subiu para 3,8%, ainda abaixo do teto da meta que é de 4,5%, mas no acumulado em 12 meses (outubro de 2023 a outubro de 2024) já ultrapassou a meta. E as projeções do Boletim Focus, aquelas que erram sempre, estão apontando para inflação mais alta. Isso ainda não é garantido e só vai se confirmar se o IPCA continuar crescendo nos meses de novembro e dezembro.
A previsão pode não se concretizar pois os preços subiram em outubro por conta basicamente da energia elétrica residencial e em novembro, ocorrerá o contrário, a energia elétrica deve cair cerca de 3%, graças à bandeira amarela, e isso vai influenciar o IPCA que pode ficar bem abaixo do índice de outubro o que faria a meta inflacionária ficar igual ou muito próxima à estabelecida pelo Banco Central. Mas outros itens pressionam a inflação, como os preços de alguns produtos alimentares, especialmente a carne, e o aumento persistente dos preços de serviços.
Há, além disso, um outro fator que agrava o cenário e influencia o aumento da inflação: a alta na cotação do dólar. Aqui, vale dizer que a cotação continuará oscilando até o dia 20 de janeiro quando Donald Trump tomar posse e provavelmente nos meses seguintes a depender das medidas que ele venha a adotar. Esse é o principal determinante, mas a questão fiscal também tem influência. O determinante das oscilações do dólar é a incerteza econômica do “mundo segundo Trump” e a inércia do Banco Central – que mesmo sabendo do componente externo, deixou de intervir no mercado de câmbio, vendendo contratos de swap cambial –, não vem ajudando a reduzir a cotação. As altas do dólar pressionam a inflação e, nesse sentido, este economista reconhece que o aumento dos juros na última reunião do Copom pode se contrapor a essa tendência. Note o leitor que a inflação não está fora do controle, mas as pressões altistas aumentaram.
Isso pode fazer o IPCA se elevar mais que o previsto, dando margem a um aumento maior da taxa de juros, o que reduziria o crescimento do PIB em 2025. Para evitar que isso aconteça e dar mais tranquilidade ao mercado, é fundamental que o governo corte gastos em proporção significativa, algo da ordem de R$ 50 bilhões. Até o fechamento desta coluna o governo não havia anunciado o tamanho do corte de gastos, mas precisará fazê-lo nos próximos dias.
A DÍVIDA PÚBLICA E OS JUROS
A dívida pública brasileira em relação ao PIB está aumentando e isso preocupa. Mas é preciso dizer o que ninguém diz: são dois os fatores que deterioram o crescimento da dívida: o déficit do governo e o aumento da Taxa Selic. Por isso, se o governo cortar gastos e o Banco Central aumentar juros, o efeito será o de enxugar gelo. Cerca de 50% da dívida pública brasileira está atrelada à Selic. Segundo o próprio BC, o aumento da dívida este ano reflete principalmente a incorporação dos aumentos de juros, por causa do ciclo de alta da Selic. Esse impacto será maior que o déficit primário do governo.
A SAÚDE EM SALVADOR
A Rede D’Or inaugurou o Hospital Aliança Star ampliando o atendimento de saúde em Salvador. Agora o grupo controla cinco hospitais na grande Salvador: o Hospital Aliança, o Cardio Pulmonar, São Rafael, o Aliança Star e Aeroporto. Isso é bom para a cidade, mas a concentração de serviços preocupa, afinal o grupo já deve controlar mais de 50% da rede hospitalar privada da cidade, sem os filantrópicos. Com o detalhe de que os hospitais da Rede D’Or não atendem a maioria dos planos de saúde, inclusive o Planserv. As opções na área privada estão se reduzindo e o destino do Hospital da Bahia passa a ser estratégico. Alguns planos de saúde já estão sem opção de atendimento.
Publicado no jornal A Tarde em 14/11/2024