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ADARY OLIVEIRA : O VIZINHO RICO E O RISCO DA MALDIÇÃO

Redação - 23/12/2019 08:32

Antigamente a geografia nos dava conta da existência de três Guianas na América do Sul: Francesa, Holandesa e Inglesa. A francesa não mudou de nome, a holandesa passou a se chamar Suriname e a inglesa hoje é simplesmente Guiana (Cooperative Republic of Guyana). A Guiana, que tem sua fronteira com o Brasil ao sul e sudoeste, é um país do Caribe e o terceiro Estado independente da América do Sul, depois do Uruguai e Suriname, sendo o único deste continente que tem como idioma oficial o inglês.

As jazidas de petróleo da Guiana a coloca entre os 20 países de maiores reservas do mundo, o equivalente a 1/5 das reservas do Brasil. Elas contêm pelo menos 5,5 bilhões de barris de óleo equivalentes, segundo avaliação da ExxonMobil e seus parceiros que a descobriram em maio de 2015. A descoberta dessas jazidas em águas profundas do Oceano Atlântico, nas costas da Guiana, está mudando radicalmente o futuro desse pequeno país caribenho. A riqueza que está por vir em curto espaço de tempo tem preocupado o governo e a sociedade civil pelas grandes oportunidades e problemas que trarão. O cuidado maior é para que nosso rico vizinho não seja apanhado pelo enigma da maldição do petróleo.

A Guiana tem hoje um PIB de US$3,6 bilhões, sendo o terceiro país mais pobre da América do Sul, na frente apenas da Bolívia e do Paraguai. Um terço de sua população está abaixo da linha de pobreza, apenas 10% de suas estradas são pavimentadas e a eletricidade distribuída é de má qualidade com frequentes quedas de energia. A atração de empresas estrangeiras para novos investimentos é quase inexistente e a falta de condições para realização de bons negócios fez, no passado, desistirem de lá muitos holandeses, chineses e ingleses. A existência de grandes reservas de petróleo não significa, entretanto, que o País vai progredir, tornando seu povo mais rico num ambiente mais pacífico e democrático. Isso infelizmente não aconteceu na Venezuela, Argélia, Angola, Colômbia, Nigéria, Sudão, entres outros, recomendando-se aí toda cautela e cuidados redobrados.

Por outro lado, não se pode deixar de considerar a possibilidade de existirem grandes reservas de petróleo e gás natural do lado de cá, próximo ao litoral do Amapá. Se na Venezuela está a maior reserva de petróleo que se conhece no mundo, se a Guiana, Suriname e Guiana Francesa a cada dia comprovam a existência de grandes reservas do óleo, por que haveria interrupção dessa cadeia logo em nosso território? Não dá para acreditar nisso. Faz muito bem a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) de focar na Margem Equatorial Brasileira, que tem potencial para descobertas de petróleo em reservatórios turbidíticos do Cretáceo Superior, usando a linguagem dos geólogos, incluindo quatro blocos dessa área na 15ª Rodada de Licitações. Essas áreas carecem de mais estudos geológicos para atrair investidores petrolíferos, cientes por demais dos riscos do negócio de Exploração e Produção (E&P).

Há muitos anos ouvimos narrativas de que o petróleo e o gás natural como fonte de energia seriam substituídos perdendo a importância que têm hoje na geração de riqueza. Contrariando tal hipótese o que se vê é a ampliação de seus usos como fonte de geração de calor e eletricidade e emprego de ambos como matéria prima na transformação industrial. A ampliação das reservas, a tendência de redução do custo de exploração, o desenvolvimento de novas tecnologias de processo e as vantagens que apresentam sobre as fontes alternativas, crescem a cada dia. Mesmo no quesito proteção ambiental, para onde convergem as críticas, progridem novas técnicas e avançam sistemas seguros que os tornam mais econômicos e viáveis.

O que se pode desejar é que nosso país vizinho enriqueça, progrida na educação, distribua bem a riqueza que possui, e fuja das tentações movidas pela pressa nas realizações e no desejo incontido de aumento de poder dos governantes, principal motivo dos desequilíbrios sociais, conflitos de toda ordem e destruição do ambiente de fraternidade que deveria ser construído com eliminação da pobreza.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor – [email protected]

 

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