O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sofreu um acidente doméstico no Palácio do Alvorada e cancelou a viagem para Kazan, na Rússia, onde participaria da Cúpula do Brics. Foi uma queda providencial que impediu que o Presidente gerasse uma crise diplomática, ficasse mal com o Ocidente, especialmente os Estados Unidos, e de quebra aumentasse a desaprovação ao seu governo.
Tudo o que o Presidente da Rússia Vladimir Putin e o líder chinês, Xi Jinping, queriam era uma foto de mãos dados com Lula para assim colocar o Brasil como parceiro ativo de uma aliança antiocidental. A foto e o aperto de mão entre os líderes colocariam o Brasil como coligado do eixo Rússia/China, seria visto como muito mais do que um encontro de interesses comerciais e fatalmente geraria grande tensão política com Washington. Internamente, essa foto viralizaria nas redes sociais, contribuindo para que os adversários de Lula fortalecessem a visão de que o Presidente do Brasil está do lado errado.
O presidente vai participar da Cúpula do Brics por meio de videoconferência e vai poder reiterar suas propostas para a reformulação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Mas bem diferente seria a presença do pessoal do Presidente avalizando posições da Rússia e China que são em muitos casos diametralmente opostas ao Ocidente.
O momento político, com guerras envolvendo esses países no Oriente Médio e na Ucrânia não é adequado para um encontro do presidente com esses líderes. Tanto é assim que o Premier saudita, Mohammed bin Salman, que tem peso geopolítico e econômico semelhante ao Brasil, também cancelou sua participação.
Como se não bastasse, o apoio diplomático que o presidente vem dando a países como China e Rússia ainda prejudicaria a estratégia militar de defesa do Brasil. Não vamos esquecer que o Brasil tem um histórico de relações militares com países do Ocidente, que Estados Unidos, a França, a Itália, a Alemanha e a Suécia, países da OTAN, são os principais parceiros militares do Brasil e nessa área o alinhamento é fundamental. O Brasil é um membro da aliança militar ocidental, um membro extra-Otan e participa das discussões do grupo, assim ir ao encontro seria simbolicamente quebrar a neutralidade que a diplomacia brasileira vem adotando.
Em poucas palavras: A queda foi providencial, afinal, participar por meio de videoconferência mantém as propostas do Brasil no fórum, mas retira o caráter político e estratégico de sua presença junto a líderes que são declaradamente contra o Ocidente. (EP- 21/10/2024)
| Foto: Evaristo Sá / AFP / CP