Sair da pobreza no Brasil não é tarefa fácil e digo isso por experiência própria. Meu pai passou a infância em Água Fria, na época distrito de Irará, na Bahia. No início do século passado não existia escola no lugar e ele aprendeu a ler e escrever com uma professora que lá morou por pouco tempo. Aos 25 anos de idade, sem curso primário, partiu para o Rio de Janeiro e o emprego que conseguiu foi de ascensorista do Edifício Pasquale Secreto, na Praça Tiradentes. Ficou no Rio durante três anos e quando retornou à Bahia tinha um plano para a família que iria constituir, trabalhando como comerciante: colocar os filhos num colégio. Assim eles poderiam progredir na vida, não acontecendo o mesmo que a vida tinha reservado para ele. Os seus seis filhos vieram para Salvador e se graduaram na UFBA. Três deles conseguiram concluir o doutorado e todos saíram da pobreza e ingressaram na classe média. Neste artigo exploro o tema sugerindo sete estratégias para uma pessoa superar a pobreza.
1ª – Educação e educação – Trabalhe de dia, estude de noite, ou trabalhe de noite e estude de dia, se vire, não deixe de estudar. É possível e vale a pena ralar. Busque educação formal e informal como instrumento essencial para quebrar o ciclo da pobreza: não estudou porque é pobre e é pobre porque não estudou. Corra atrás de cursos técnicos, graduações e cursos online gratuitos. Sem isso todas as portas estarão fechadas para você.
2ª – Habilidades – Não se esqueça que adquirir habilidades é diferente de adquirir conhecimentos. Você só aprende a nadar nadando. Não adianta ficar olhando os outros nadando na piscina ou no mar. Você tem que cair na água. Do mesmo jeito você só aprende a andar de bicicleta se sentar no coxim e pedalar. Não dá para aprender só olhando os outros passarem. As habilidades lhe ajudam a conseguir um serviço. De preferência àqueles mais universais demandadas pelo mercado: saúde, administração, contabilidade.
3ª – Empreender e inovar – Se você não está gostando do emprego formal que conseguiu, tente trabalhar por conta própria. Descubra a profissão que mais lhe agrada. A área de serviço é a mais fácil. Quanto mais difícil e raro um serviço ele garante as melhores remunerações. Não procure coisa fácil de fazer, encare os desafios.
4ª – Planejamento e poupança – Planeje sua carreira e seja ator de sua história, não se deixe levar. Se você desejar ser empregado, ao invés de empreendedor, escolha o que mais lhe agrada: trabalhar para o governo, para empresa privada nacional, para empresa multinacional ou outra que combine uma dessas opções. Guarde sempre um pouco do que conseguir ganhar. Conheci aqui na Bahia um cidadão que dormia quatro horas por dia e guardava 10% de tudo que ganhava. Tornou-se dono de uma rede de supermercados.
5ª – Orçamento e economia doméstica – Não desperdice, aprenda a guardar dinheiro mesmo fazendo sacrifício. Faça um planejamento financeiro, estabeleça metas realistas e crie um orçamento que priorize suas necessidades básicas e investimentos no seu futuro. Não ande fazendo farra nem exagere nas comemorações. Não se incomode se lhe chamarem de pão duro.
6ª – Relacionamento e articulação – Construir uma rede de contatos sólida pode abrir portas para oportunidades de emprego, parcerias comerciais e crescimento profissional. Participe de eventos locais, workshops e feiras para expandir sua rede de contatos. Esteja presente em todos os eventos que puder, principalmente naqueles correlacionados com sua profissão.
7ª – Programas Sociais e Benefícios Governamentais – Esteja ciente dos programas sociais e benefícios governamentais disponíveis para pessoas em situação de vulnerabilidade. Procure informações sobre como se cadastrar e quais os requisitos para acessar esses recursos. Não desperdice nenhuma oportunidade, a sorte está em cada lugar.
Além de tudo isso cuide de sua saúde e mente, seja persistente, enfrente desafios, supere obstáculos e não desanime nunca. Não esquecer que o mais importante é você acreditar em seu potencial. Repetindo, não é tarefa fácil sair da pobreza, mas muito mais difícil e penoso é viver como pobre.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]