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VISUALIDADES: SAMUELITA SANTANA: ELAS SIM!

Redação - 28/10/2019 07:00 - Atualizado 28/10/2019

Poderia falar de muitas delas. Mas vou me reportar a apenas duas. Mulheres. Humanas. Normais. Profissionais. Domésticas. Vaidosas. Charmosas. Falhas. Poderosas. Elas poderiam ser e representar qualquer uma mulher que decidiu rasgar aquelas estatística que povoam os cenários sobre as desigualdades de gênero. São duas mulheres fortes, com trajetórias de trabalho duro e carreiras consolidadas que ganharam o jogo de nomeações para cargos chaves da União Europeia: a alemã Ursula Von Der Leyen, 60 anos, que assumirá em primeiro de novembro a presidência da Comissão Europeia e a diretora-geral do FMI, a francesa Christine Lagarde, 63 anos, que subirá ao pódio da presidência do Banco Central Europeu. Ambos ocupados por mulheres pela primeira vez na história. Obviamente, escolhas como essas não passaram e jamais passariam incólume aos olhos de um mundo dominantemente masculino e cheeinho de preconceitos e adjetivações. São olhares que dificilmente alcançarão perspectivas mais profundas como a da superação, da coragem, de estudos, de longa experiência, aprendizados, da luta diária e perseverante contra a discriminação, contra os abusos e à não rendição aos danos de uma cultura imposta, depreciativa e injusta.

Desde que foram indicadas para ocupar os postos de altíssimo destaque da UE, muito se tem falado na mídia do mundo inteiro sobre essas duas mulheres que chegaram, por mérito, bem ali onde estão e se propuseram. Mas então a enxurrada de especulações e deméritos também não cessam de encher páginas e telinhas noticiosas. Inclusive no Brasil. As classificações e “atributos”, quase sempre carimbados por penas e falas masculinas, vão desde “conservadoras” até a “medíocres”, perpassando por  “escolhas decepcionantes”, “mulheres de extrema-direita”, ” mulheres neoliberalistas”,  como se linha política  para o caso de gestão feminina fosse determinante para o insucesso ou para a incompetência. O que para os homens, quase sempre, seria apenas referência. Líderes europeus insatisfeitos com a escolha de Von Der Leyen chegaram a vaticinar um mandato “frágil e sem fôlego”, enquanto articulistas da grande imprensa colocavam sob suspeição a escolha de Ursula e Legarde, alguns até sugerindo ser missa encomendada pelo conservador presidente americano Donald Trump. O que parece ser uma tremenda bobagem. Legarde, por exemplo, fez duras críticas ao neoprotecionismo de Trump durante a campanha presidencial americana, o que descarta estratégias de alinhamento, principalmente em se tratando de uma personalidade colérica como a de Trump. Isso sem falar no antagonismo pesado entre Trump e a chanceler alemã Angela Merkel de quem Ursula Von Leyen é ministra da Defesa, cargo que deixará para assumir a Comissão Europeia.

Claro que o fato de duas mulheres estarem à frente da Comissão Europeia não significa em absoluto que a desigualdade de gênero, com relação aos salários, às oportunidades em altos cargos, aos avanços e garantias de legítimos direitos seja reduzida. Não é segredo pra ninguém que as mulheres continuam sub-representadas nos altos escalões corporativos, na vida pública e na política, seja no Parlamento Europeu, lá adiante ou no Brasil. Só pra se ter ideia da tragédia quando se pensa em parlamento igualitário e do quão distante está o Brasil do cenário ideal, em fevereiro desse ano o IBGE, em parceria com  o organismo internacional Inter-Parliamentary Union, divulgou estudo mostrando que de um toral de 192 países o Brasil ocupa a 152ª posição no ranking da representatividade na Câmara dos Deputados, ficando atrás de países como Senegal, Etiópia e Equador. À frente do Brasil – pasme-se – estão Djibuti e Burkina Faso. Do total de deputados federais as mulheres compõem apenas 10,5%. Índice baixíssimo e o pior desempenho da América do Sul.

Nesse contexto ainda tão desfavorável – aqui ou alhures – as nomeações de Ursula Von Der Leyen e Christine Lagarde para os vértices das instituições europeias devem, portanto, ser vistas por qualquer outro olhar, menos o da depreciação por conta do gênero. As dificuldades em identificar nomes adequados e as incertezas geradas pela queda de braço entre os partidos europeus na nova composição do Parlamento, são elementos que não podem ser descartados quando se avalia os critérios que levaram à indicação de duas mulheres. Muito além de garantir a igualdade de oportunidades nos top jobs europeus, a escolha assegura pontos de convergência, poder de agregação, de articulação e visão peculiar de comando e negociação.

Com certeza não se deve desprezar a alta qualidade dessas duas líderes e nem reduzir a importância que terão como representantes femininas no cenário do poder mundial. Como comandantes da União Europeia elas podem não mudar o quadro das desigualdades de gênero que assola o mundo, mas, seguramente, serão fontes de inspiração e darão provas de que o poder e a competência de uma mandato feminino reside exatamente no fato de ter a visão da mulher. Não é à toa que numa mesa de negociação Christine Legarde, prefere sempre estar naquele “ângulo” mais alegre do embate. Oferece xale-manta para quem mostrar sinais de cansaço, tira fotos com o iphone e distribui chocolates. Conseguiu levantar 340 milhões de euros dos Países do Fundo (FMI) a quem chama de “nossos clientes” e não deixa de reivindicar o chame feminino quando o assunto é arrecadar dinheiro. Diz sem medo de ser feliz ou causar burburinhos: ” Os homens têm mais dificuldade em dizer NÃO quando uma mulher pede dinheiro”. E levanta da mesa sem deixar para trás qualquer dúvida sobre sua competência. O mesmo poder feminino que Ursula Von Der Leyen  fez questão de reivindicar quando duvidaram da sua capacidade em ser a ministra da Defesa da Alemanha, cargo considerado no país como a “cadeira de fogo”. Deixou claro: “Uma mulher que soube administrar uma família com sete filhos, possui capacidade para comandar um exército”. E foi empossada!

Colaboração: Eliude Radice  Fontes: IBGE | Inter-Parliamentary Union

Samuelita    Santana

Jornalista

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