De hoje a oito é sexta-feira da paixão, um dia consagrado a Jesus Cristo entre os cristãos do mundo inteiro. E, nesse dia, é hora de lembrar que no seu apostolado Jesus sempre esteve ao lado das mulheres. Na verdade, seja o Velho ou o Novo Testamento, é tempo de ler a Bíblia, esse monumento à fé e a literatura, e destacar a saga das mulheres.
Como não se encantar, por exemplo, com Sara, esposa do patriarca Abraão, que foi capaz de rir de Deus, quando Ele disse que ela teria um filho. Sara, já muito velha, sorriu: “Murcha como estou, poderia eu ainda gozar? E meu senhor é tão velho!”. Sara nos deu o riso e o filho da sua dúvida será chamado de Isaac, aquele que ri.
E como não lembrar de Rebeca, que foi capaz de casar-se com um homem a quem Deus desejava ver sacrificado, ou de Raquel que exigiu ao Senhor a fertilidade que Ele deu a todas as mulheres, mas tomou dela. E que dizer de Séfora, que salvou Moisés da ira de Deus. O profeta não havia circuncidado seu primogênito como havia sido determinado e no momento em que o Senhor vai castigá-lo por isso, Séfora arma-se de uma faca de pedra e com ela corta o prepúcio do filho para assim conter a cólera de Deus.
E muitas outras mulheres – Tamar, Rute, Judite, a filha de Jefté, a prostituta Raab –, demonstram sua força nas Escrituras, ainda que no Velho Testamento elas estejam submetidas às regras retrógradas da lei arcaica.
E então chegamos ao Novo Testamento e conhecemos o apostolado de Jesus, que eleva as mulheres e as liberta da submissão. Jesus desafia a multidão e impede a lapidação da adúltera: “Aquele que não tiver pecado atire a primeira pedra”. Contrariando a lei judaica, ele deixa-se tocar pela mulher menstruada, permite que a prostituta lave seus pés e que as mulheres o sigam em sua pregação. O apostolado de Jesus foi a favor das mulheres e elas nunca o abandonaram. Em Getsêmani estavam ao seu lado, na crucificação lhe deram consolo e no seu retorno é a elas que ele se apresenta.
Na Bíblia, como na vida, as mulheres não abandonam e estão sempre presentes no nascimento e na morte. Foram as mulheres que salvaram Moisés, livrando-o da sentença de morte ditada pelo Faraó contra todos os primogênitos de Israel. E foram as mulheres que velaram por Jesus, na vida e na morte. Ao fim de sua saga, pregado na cruz, ele não estava só e, embora todos os discípulos homens tenham fugido, as mulheres estavam lá e jamais o abandonaram.
As mulheres do Novo Testamento, Maria, Maria de Magdala, Maria de Cleófas, Suzana, Joana de Cuza, Alcione e muitas outras são as verdadeiras discípulas do Mestre. E foi por isso que escrevi um livro sobre elas, para olhar a vida de Jesus com um olhar feminino e sabendo que, no mundo que se desenha para o futuro não haverá lugar para a misoginia e os todos precisam ter a filoginia necessária àqueles que querem compreender o ser humano.
Publicado no jornal A Tarde em 22/03/2024