Bahia Econômica – Salvador tem tido alguns eventos voltados para Economia do Mar. Qual a importância desses eventos?
Eduardo Athayde – O termo Economia Azul, criado por Günter Pauli, um economista belga do WWI, emergiu trazendo reflexões sobre a contribuição dos oceanos à economia e a necessidade de garantir a sustentabilidade ambiental e ecológica dos espaços marítimos. A Economia do Mar, mais restrita, refere-se ao que é produzido pelo homem, abrangendo atividades industriais como óleo e gás, indústria naval, pesca, aquicultura, turismo, logística, transportes, energia, formando assim um conceito para a elaboração de políticas e investimentos destinados a preservar e explorar adequadamente o ambiente marinho e costeiro.
A Bahia, com 53 municípios costeiros, tem o maior litoral entre os estados brasileiros. Nos 1.605 km de costa, contando as reentrâncias das baías de Todos-os-Santos e Camamu, movimenta uma possante Economia do Mar e precisa apropriar-se da visão inovadora desse setor como já acontece em todo o mundo.
Os eventos ajudam a despertar a Bahia para o potencial da Economia do Mar que abrange todos os bens, produtos e serviços realizados no mar, incluindo atividades econômicas nas zonas costeiras que se servem do ambiente marinho. Enquanto o Cimatec Mar, ligado à Fieb, organiza pesquisas na área, o Rio de Janeiro, alinhado à visão internacional, já criou a Secretaria de Estado de Economia do Mar.
Bahia Econômica – Qual representação no PIB a economia do mar tem em Salvador?
Eduardo Athayde – Dos 693 km² da área total do município de Salvador, 343 km² estão em território seco e 350 km² no território molhado da Baía de Todos-os-Santos (IBGE). É uma área de influência importante para o PIB do Estado da Bahia, responsável por parcela expressiva da arrecadação de ICMS do estado. Temos segmentos importantes na Economia do Mar gerado por grandes, medias e pequenas empresas, nas mais diversas áreas como óleo e gás e outras.
O Planejamento Espacial Marinho (PEM), é um processo de mapeamento da distribuição espacial das atividades humanas da Amazônia Azul, uma área de 5.7 milhões de km2, com 200 milhas náuticas de largura que circunda toda a costa brasileira, está sendo organizado pela Comissão Interministerial de Recursos do Mar (CIRM), coordenada pela Marinha.
Bahia Econômica – Quais as características que levaram Salvador a receber o título de Capital da Amazônia Azul?
Eduardo Athayde – A Baía de Todos-os-Santos (BTS), maior baía do Brasil e central à costa nacional; juntamente com a Cidade do Salvador, berço da civilização brasileira, foram declaradas pela ‘Carta da Bahia’ como Capital da Amazônia Azul. Lançada em 2014 pela Associação Comercial da Bahia (ACB) e pelo Pacto Global, da ONU, a Carta foi firmada pela Fieb, Faeb, Fecomércio, Ibama, Inema, Ministério Público, Instituto Geográfico e Histórico e Associação Baiana de Imprensa; atribuindo novo status e passaporte para apresentarem-se internacionalmente. Tudo acompanhado hoje pela Comissão de Economia do Mar da ACB.
Fundada em 1811, a ACB é fruto da economia do mar intensificada no Brasil com a chegada de D.João IV a Salvador, em 1808, onde assinou a Abertura dos Portos as Nações Amigas, lançando a pedra fundamental da Associação Comercial. Hoje, o presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), o imortal Joaci Goes, além de registrar a história do passado nos artigos assinados, tem escrito também a história do futuro, registrando a força do status de Salvador como Capital da Amazônia Azul.
Bahia Econômica – Como governo e prefeituras podem atuar para ajudar para incentivar essa nova visão?
Eduardo Athayde – A Cidade do Salvador, com 66 km de costa litorânea e cerca de 15 km de distância, em média, entre a costa atlântica e a costa interna da BTS, é a cidade mais abraçada e influenciada pelo do mar do Brasil. A força do mar, que envolve a gente da cidade e os turistas que ela acolhe, ainda não é incluído nem debatido nas escolas, quer no ensino médio ou no fundamental, municipal ou estadual, público ou privado. O povo do mar precisa ser despertado para a importância dessa rica propriedade, e ativar o sentimento de pertencimento.
Manifestações religiosas de diferentes tradições espirituais ligadas ao mar, inscritas na alma do povo de Salvador, demonstram isso. A tradicional procissão do Senhor dos Navegantes abençoa cada ano novo no primeiro dia. Iemanja, rainha do mar, é celebrada dia dois de fevereiro. O mais famoso poema Navio Negreiro, de Castro Alves, o maior poeta da Bahia, escrito em 1868, tem como subtítulo “tragédia no mar”. O soteropolitano é um povo do mar.
Bahia Econômica- Qual a participação do trade turístico nessa área?
Eduardo Athayde – Projetos voltados para o desenvolvimento de uma ´eco-nomia azul´ estão sendo feitos em todo o mundo. Precisamos entender a importância de usar sustentavelmente esse patrimônio. Neste sentido, a Câmara Municipal de Salvador, por iniciativa do vereador Teo Senna, abriu o plenário, pela primeira vez na história, para debater a importância do mar na vida dos seus cidadãos nessa Década das Nações Unidas de Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030), abordando a “Economia do Mar na Capital da Amazônia Azul”.
Eventos como esse são inspiradores e portadores de futuro. O deputado Adolfo Menezes, presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, já marcou para o dia 23 de outubro próximo, Sessão Plenária para debater a força da Economia do Mar na Bahia.
A Organização Mundial do Turismo (OMT), emitiu nota pública pedindo aos destinos turísticos que reinterpretassem os seus ativos naturais para inclui-los em nova lista internacional de lugares especiais a serem visitados. Atentas para oportunidades, startups turistechs em todo o mundo veem fazendo propostas inovadoras e negócios na área.
A concessionária do Terminal Marítimo de Salvador, onde cruzeiros aportam cerca de 500 mil turistas a cada ano, prestará um grande serviço para a divulgação da cidade incluindo no alto do seu costado “Salvador-Bahia-Brasil Capital da Amazônia Azul“. Um mensagem de Cartão Postal a ser rapidamente percebida, fotografada e enviada para o mundo via celulares. O que estamos esperando?
O prefeito Bruno Reis tem oportunidade de dar destaque especial a Cidade do Salvador apresentando-a como Capital da Amazônia Azul, ajudando atrair atenções, turistas e investidores. Fora das fronteiras brasileiras, Salvador, concorrendo com cidades do mundo, ainda permanece como uma ilustre desconhecida do trade turístico internacional.
Bahia Econômica – E outros municípios da Bahia?
Eduardo Athayde – Com 53, dos 280 municípios costeiros brasileiros que margeiam a Amazônia Azul, a Bahia é privilegiada. Com praias, rios, manguezais, enseadas, história, culturas e culinária locais, água morna e clima tropical paradisíaco, tem um patrimônio natural, observado como ativos a serem preservados, atrai investidores e turistas interessados na crescente força da bioeconomia.
Na linha verde do litoral norte da Bahia, localidades como Praia do Forte, Sauípe, Imbassaí e Mangue Seco, recebem investimentos em hotéis e resorts, além de condomínios residenciais, apresentados e comercializados no Brasil e no exterior. A reserva da Sapiranga está sendo avaliada pela Chanel para lançamento internacional de seus produtos.
Nos municípios do chamado Baixo Sul, lugares como o Morro de São Paulo, Boipeba, Garapuá e Moreré, que fazem parte do Principado de Cairú, único município arquipélago do Brasil, comparado na dimensão ambiental ao Principado de Mônaco, recebe turistas do Brasil e do mundo passeando e investindo na área.
No Sul, com destaques para Itacaré, com hotspots de biodiversidade registrados pelo New York Botanical Garden de frente para o mar; Ilhéus onde tanto a literatura de Jorge Amado atrai, como a Floresta de Chocolate, termo cunhado pelo WWI, contígua ao mar, produz chocolate de alta qualidade nas fazendas de chocolate; e Una, com resorts como o Transamérica, com aeroporto próprio para boing, realiza eventos internacionais.
No extremo Sul, Porto Seguro, Arraial D´Ajuda, Trancoso, Cabrália, Prado e Nova Viçosa, todos banhados pela Amazônia Azul, são cortejados por fundos de investimentos globais interessados em investimentos para entretenimento e lazer. De toda essa Amazônia Azul que corteja, com as espumas das suas vagas, a costa brasileira, a Bahia é o estado privilegiado por ter a maior área banhada, cobiçada e cortejada. Precisamos aproveitar sustentavelmente, com inteligência nova, essa dádiva.