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ARMANDO AVENA – SOBRE O VINHO, BRANCO

Redação - 09/09/2023 06:05

O Brasil tem suas idiossincrasias. E uma delas é o desprezo aos vinhos brancos. Já ouvi de muitos amigos, apreciadores de vinho, a afirmação peremptória: “Eu só bebo vinho tinto!”. Que pena, jamais terão o prazer de degustar um maravilhoso Chablis. E, sendo assim, é possível encontrar em pleno dia e com o sol a pino apreciadores abonados bebendo, em suas varandas em frente ao mar, um Grand Cru francês ou um Rioja encorpado e profundo.  O problema é que o vinho tinto aquece a alma, mas também o corpo, que transuda por inteiro. Nada de mais, diria o aprendiz de sommelier, basta que o vinho chegue à mesa resfriado. Mal sabe ele que a garrafa também transuda e logo o vinho estará tão quente quanto o tempo. Este cronista não é sommelier e não entende de vinhos, é apenas um apreciador da bebida, mas, convenhamos, ninguém merece beber um vinho tinto quentíssimo ou geladíssimo. Não, os tintos não combinam com o calor. À noite, sim, mesmo no verão, um tinto é bem-vindo, mas, ainda assim, se o calor for intenso, é melhor optar por um Pinot Noir, da Borgonha ou de outra procedência honesta.

A idiossincrática resistência dos brasileiros ao vinho branco pode ter sua origem na época em que os poucos vinhos brancos estrangeiros que chegavam ao Brasil eram de má qualidade e cheios de açúcar e tinham como símbolo a garrafa azul do Liebfraumilch, o famoso “leite da mulher amada”. Diz-me o Google que, embora conhecido assim no mundo inteiro, Liebfrau é como os alemães chamam “Nossa Senhora” e, naturalmente, essa mistura só podia dar muita dor de cabeça.

Mas os tempos mudaram e hoje o Brasil tem acesso a vinhos brancos de altíssima qualidade. Alguns deles pouco ficam a dever a um tinto concentrado e, envelhecidos em barris de carvalho, são complexos e encorpados, como os brancos da Borgonha, da região de Friuli-Venezia, na Itália, do Douro e Alentejo, da região de Rioja e até do Vale dos Vinhedos, no Brasil.

Os vinhos brancos podem vir na forma de Champanhe, Prosecco, Blanc de Blanc ou de um dos espumantes brasileiros, premiados mundo afora. E nada como, em momentos de alegria ou de tristeza, ver o mundo através das bolhas. Mas nem sempre estamos afeitos às borbulhas e, nesse caso, há que se escolher entre as maravilhosas castas de Chardonnay, Viognier, Chenin Blanc, Sémillon, ou quem sabe, Pinot Grigio, Sauvignon Blanc E outras.

Ora, ora, – dirá o sommelier enrustido – jamais um branco chegará aos pés do tinto! É provável, mas se um amigo rico insistir, experimente um  Chablis Grand Cru ou um Château d’Yquem e a certeza já não será tanta. Mas, paixão baseada em dinheiro não tem graça, por isso, delicie-se, por um bom preço, com um Esporão Reserva Branco, um  chardonnay Angélica Zapata, o premiado brasileiro Amitié Chardonnay Oak Barrel ou, até, a preço módico, um Reguengos Reserva DOC.

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