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ADARY OLIVEIRA- PELO DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA DA QUÍMICA FINA

Redação - 25/10/2021 09:02

A química fina é definida como a química dos produtos de alto valor unitário. Sua produção é medida em gramas e miligramas e o transporte de seus produtos não representa item importante de seu custo. O rendimento das reações, aa sofisticadas tecnologias empregadas e a importância econômica de suas aplicações, principalmente na indústria farmacêutica, de defensivos agrícolas, pigmentos para tintas, vernizes e esmaltes, a fazem simples na fabricação e de difícil penetração. A sua principal barreira à entrada são os altos investimentos em pesquisa, as dificuldades no estabelecimento das rotas tecnológicas e o enfrentamento das multinacionais estrategicamente localizadas, integradas quanto ao processo produtivo e alicerçadas num forte esquema de marketing e assistência técnica ao consumo.

A pandemia do Covid 19, pela qual estamos atravessando, colocou às claras o poder da indústria farmacêutica mundial no acionamento de seus cientistas, no rápido desenvolvimento de pesquisas, na célere comercialização. Com exceção dos fabricantes indianos, cujo país tem uma indústria farmacêutica desenvolvida, só se ouvia falar nas vacinas dos países ricos: americanos, ingleses, russos, chineses. Nada vinha da África, da América Latina ou de países pobres. A poderosa e competente indústria aparece no momento certo, salvando vidas, fortalecendo-se financeiramente e mostrando este lado do poder. Nós todos agradecemos e damos vivas por elas existirem.

No Brasil, as empresas privadas e os laboratórios públicos são representados há 35 anos pela Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina).Seu principal objetivo é a defesa da indústria nacional e o desenvolvimento do parque industrial do setor.  Procura contribuir com a formulação de políticas públicas e capacitação tecnológica nacional. O lema da Abifina abrange inovação, fabricação local, acesso ao mercado interno, comércio exterior, propriedade intelectual e investimento produtivo.

Várias iniciativas colaboraram para o incremento dessa indústria no Brasil. A de Osmar Xavier foi uma delas. Antigo varejista na área de medicamentos ingressou na indústria fabricando o antiácido rotulado de Alkabom. Com poucos dias no mercado o produto começou a empedrar dentro das embalagens de alumínio e suas vendas desabaram. Na versão do próprio Osmar a empresa fornecedora do invólucro passou a fazer micro furos nos saquinhos, a pedido da empresa concorrente, por onde entrava a umidade. Ele foi adiante e fundou a Companhia Brasileira de Antibióticos (Cibran) em Tanguá, no Rio de Janeiro. O seu projeto incluía a produção de sais de eritromicina, ampicilinas, amoxilinas, bentamicina, cefalexina e rifampicina. Chegou a produzir eritromicina quando apoiada pelo BNDES e negociou acordo com a americana Abbott que entraria como sócia e cederia a tecnologia da fermentação. Participei da negociação do acordo de acionistas. Os brasileiros estavam de olho na cepa que trazia solução para os problemas tecnológicos e a americana não queria ver gente estranha na área. O projeto começou bem, mas não prosperou, teve vida curta.

Pelo lado do BNDES participei de vários outros projetos de química fina que ficaram no caminho, apesar da competência dos grupos empreendedores. São exemplos os seguintes: Nitroclor (BA, clorobenzenos, nitroclorobenzenos e derivados); Química da Bahia (alquilaminas); Cortex (BA, corticosteroides); Alfar (AL, ácido ascórbico e seus sais); Barueri (SP, tiossulfato de amônio e sulfito de potássio). Entretanto, foram bem-sucedidos os projetos Carbonor (BA, bicarbonato de sódio) e Biobrás (MG, enzimas e cristais de insulina). As barreiras de entrada no setor, principalmente as de natureza tecnológicas, são difíceis de transpor.

Os esforços dispendidos pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Instituto Butantan, com resultados positivos na fabricação de vacinas antivirais, mostraram ao País que é possível avançar nas pesquisas nessa área e que o Brasil não pode ficar dependente de tecnologias estrangeiras. Não só na atividade de saúde, coberta pelo Sistema Único de Saúde (SUS), um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, mas também na produção de insumos agrícolas e outros relacionados com a vida. Nesse sentido o governo e a iniciativa privada devem andar juntos, ombro a ombro, unindo todos os esforços possíveis.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor – [email protected]

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