A oposição na região Nordeste tem um desafio e tanto. É que os nordestinos apoiaram em peso a eleição de Lula e, por isso, a crítica oposicionista precisa se qualificar. No cenário nordestino, e mesmo nos tempos atuais, não há mais lugar para a oposição de antigamente do tipo “qualquer coisa que venha do governo, sou contra” ou “está comigo ou está contra mim” até porque se há uma coisa que o Presidente Lula faz bem é transitar em busca de apoio na oposição.
Dito isso, a oposição precisa compreender que é preciso qualificar a crítica que se faz ao governo. Com relação ao Bolsa Família, por exemplo, não faz sentido bradar contra o programa como se fazia antigamente e ainda hoje se faz na extrema direita, afinal, milhões de pessoas recebem recursos desse programa e falar contra ele é perder eleitores. Mas se pode tranquilamente focar a crítica na ampliação do programa ou num melhor gerenciamento dos recursos.
O mesmo pode se dizer do novo PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, lançado por Lula no Rio de Janeiro na semana passada. Ora, o programa é uma listagem de obras fundamentais para os Estados e ficar contra ele a priori é ficar contra a possibilidade de investimentos. Na Bahia, por exemplo, o PAC prevê obras que vão melhorar a vida das pessoas e dinamizar a economia. A Fiol – Ferrovia Oeste Leste, a duplicação da BR 101, a implantação do Canal do Sertão, a construção de barragens, construção de casas, obras de infraestrutura e muitas outras são fundamentais para o seu desenvolvimento, de modo que a simples crítica ao programa ou à sua inoportunidade frente a situação fiscal é um tiro no pé.
Se a oposição quer focar sua desaprovação ao PAC, tem de fazê-lo de forma qualificada, não questionando a obra ou sua necessidade, mas os erros de projeto que porventura venham a ter, o tempo para sua execução e por aí vai. E essa crítica pode até vir acompanhada de ideias e propostas de como fazer melhor, mas sempre de forma construtiva, pois a crítica pela crítica soa como se a oposição estivesse contra a própria obra ou programa.
A verdade é que a oposição no Nordeste e na Bahia precisa ser qualificada e não se omitir. Vejamos, por exemplo, as recentes declarações do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, contra os incentivos para a região. Ao dizer que nordestinos são “vaquinhas que produzem pouco”, ao bradar contra os incentivos na região e ao dizer que o Sul e o Sudeste têm de se posicionar politicamente para impedir que recursos da União sejam direcionados em determinados programas para o Nordeste, Zema está se pondo contra a região, contra os nordestinos e contra parcela da população do seu próprio Estado. (Veja aqui).
Ora, ainda que Zema possa ser um aliado das oposições nas próximas eleições, é irracional para qualquer político nordestino concordar com suas posições, pois estaria se colocando contra o povo do seu Estado. Aliás, tanto a governadora de Pernambuco, como o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, desqualificaram, ainda que de forma extremamente tímida, as declarações do governador de Minas. Mas outros políticos oposicionistas, pelo contrário, ou se omitiram ou até concordaram veladamente com Zema. Esse tipo de oposição não cabe mais, é contraproducente como, aliás, o foi para o próprio Romeu Zema, que, buscando atrair o apoio dos bolsonaristas, bateu de frente com milhões de nordestinos. (EP -14/08/2023)