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PAREM DE TRATAR BOAS AÇÕES COMO AGENDA ESG – AUGUSTO CRUZ

João Paulo - 31/07/2023 11:19 - Atualizado 31/07/2023

Recentemente, em um fórum sobre ESG, dentre as importantes palestras e discussões sobre o mercado e a agenda ESG, sobre questões que realmente impactam nas empresas e que precisam ser tratadas por exigência de stakeholders, visando mitigar os riscos do negócio, uma das palestrantes inicia sua fala parabenizando a organização do evento porque o copo em que lhe serviram água era de vidro. A fala nada tem a ver com ESG. Costumo dizer que palestras sobre ESG dão ao speaker a oportunidade de proferir frases de efeito a todo instante, só que não é disso que o ESG cuida.

O nosso engajamento ou ativismo pessoal a causas sociais e ambientais são importantes e pode servir de exemplo para seus amigos e familiares, podendo, até mesmo, influenciá-los a adotar boas práticas, como doar sangue, realizar trabalhos voluntários, separar o lixo, reduzir o desperdício e abastecer o carro com etanol. Isso não é ESG. Por mais que você se esforce, por mais que o influenciador ou a influenciadora digital realize boas ações, não estamos falando sobre ESG. Precisamos de um freio de arrumação nessa história, pois estamos reduzindo uma agenda corporativa impactante à troca de copos de plástico por canecas de louça. E é a partir dessa superficialidade que os anti-ESG se alimentam.

Ranjita Rajan, presidente executiva da Oxford Global Partnership, e head de relacionamento ESG na SSEE (Smith School of Enterprise and the Environment), da Universidade de Oxford, refere que a amplitude e complexidade do ambiente ESG apresentam um desafio para as empresas, com inúmeros padrões, formas de reportar e estruturas, cada um com seu conjunto de requisitos e critérios, e as empresas se sentem obrigadas a aderir a múltiplas diretrizes e standards para evitar receberem a pecha de negligentes. Ademais, os temas contidos na agenda ESG incluem áreas como gestão de resíduos, mudanças climáticas, transição energética, direitos humanos e trabalhistas, diversidade e estratégia tributária, dentre muitos outros, os quais têm de ser tratados com profundidade e seriedade, sob pena de configurar o greenwashing (práticas superficiais e de baixo impacto ou mesmo mentirosas).

É importante lembrar que a formulação do ESG advém do mercado financeiro que entende que as empresas que adotam boas práticas de governança corporativa, mitigam seus impactos ambientais e atuam com responsabilidade social, evidenciam menores riscos para investimento. Não vamos confundir, portanto, boas ações com a prática ESG.

Augusto Cruz, advogado e escritor, sócio da AC Consultoria. LinkedIn @Augusto Cruz.

 

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