Veja o artigo do economista Armando Avena no jornal A Tarde
O carnaval acabou, Bolsonaro é um fantasma que não assusta mais ninguém e Lula faz o que sempre fez: governa sem alarde: aumenta o bolsa-família e o salário mínimo, reajusta o desconto do Imposto de Renda, reativa o Minha Casa, Minha Vida e a prepara o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento para ser lançado quando seu governo fizer 100 dias. É um presidente como deve ser: faz uma visita aos Estados Unidos, a maior potência do planeta, e já planeja outra visita a China, a grande potência comercial, mas quando um temporal mata dezenas de pessoas em São Paulo ele deixa seu descanso na Bahia, alinha-se a Tarcísio Gomes, hoje o maior expoente do que restou do bolsonarismo, e vai visitar e ajudar os desabrigados. Bem diferente de quem, em casos muito piores, apenas dizia: “todos vamos morrer um dia”.
No seu terceiro mandato, Lula está sendo o que sempre foi: Lula. E está indo bem a não ser por uma questão, sempre ela: a economia. A economia brasileira mostra sinais de recessão, o mercado de trabalho está desacelerando após a retomada pré-pandemia, a taxa de juros de 13,75% ao ano derruba o crédito, o consumo e o investimento e a queda na inflação, que deveria ser maior, ainda se mostra bem abaixo do teto da meta.
Note-se que o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem agindo corretamente ao anunciar para abril a nova regra fiscal e garantir que a reforma tributária vai sair ainda no primeiro semestre. Mas Lula é um animal político e, embora compreenda que não se muda a economia de um dia para o outro, sente que está perdendo capital político. Busca então um inimigo para culpar e, no momento, o único disponível é o Banco Central autônomo com seu presidente, Roberto Campos Neto, a defender a taxa de juros nas alturas. Mas não se engane o leitor, Lula não vai levar a cabo essa disputa, (pelo menos por enquanto) até porque nada tem a ganhar com ela e continua prestigiando Haddad, que costura uma ação coordenada com o Banco Central.
Mas nesse cenário tem algo que preocupa o mercado e que Lula – mestre em deixar as disputas internas evoluírem para que ele possa dar a palavra final – já detectou mas faz ouvido de mercador. Esse algo é a guerra surda entre Haddad e Aloisio Mercadante. Quem primeiro alertou para isso foi o jornal Valor Econômico, mas quem conversa diariamente com o mercado já sabe que Mercadante e Haddad não se batem e basta olhar para a equipe que o primeiro montou no BNDES para ter certeza: ele montou uma equipe para assumir o Ministério da Fazenda, caso a economia não deslanche. E já quem fale no “Ministério da Fazenda Paralelo”.
Os atritos são muitos: Haddad queria reonerar imediatamente os combustíveis e Mercadante foi contra e venceu; foi ele quem faz a cabeça de Lula contra o Banco Central independente e, mais recentemente, disse que o BNDES vai fazer um seminário para avaliar qual a melhor regra fiscal para o país, uma atribuição do Ministério da Fazenda. Essa é uma guerra anunciada, e preocupa o país, pois enquanto Haddad é pragmático e competente, Mercadante é a volta ao passado.
UM SHOW DE CARNAVAL
O carnaval da Bahia foi um show e estão de parabéns todos os envolvidos na festa, especialmente o poder público, nossos artistas maravilhosos e o folião. Em termos econômicos, a ocupação média dos hotéis foi de 96,5% e de 100% nos estabelecimentos próximos aos circuitos. Segundo Luciano Lopes, presidente da secção baiana da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-BA) nos últimos 10 dias antes do carnaval, o setor registrou um faturamento correspondente a 11,5% do esperado para todo o ano. A quantidade de pessoas transportadas para os locais de festa cresceu 30% em comparação com o mesmo período de 2020 e Lopes diz que o carnaval de 2023 foi melhor que o de 2019.
CARNAVAL GAY FRIENDLY
Salvador tornou-se um dos grandes pólos gay friendly do carnaval brasileiro. E isso é muito bom para a cidade, não só porque fortalece nossa maior marca que é a diversidade e a mistura, mas também sob o ponto de vista econômico. Estudos indicam que o gasto médio do turista LGBTQIAP+ no carnaval é 50% maior do que o do turista hétero. O carnaval em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis e Recife também tem ambiente amigável para a comunidade LGBTQIAP+, com blocos e eventos específicos. O foco principal do carnaval gay friendly em Salvador são os 4 km do Circuito Dodô, ligando Barra a Ondina, mas ele está espalhado por toda a cidade em blocos, camarotes e na pipoca.
Publicado no jornal A Tarde em 23/02/2023