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AS CARTAS DA BAHIA PARA JOSÉ SARAMAGO – ARMANDO AVENA

Redação - 23/12/2022 07:56 - Atualizado 23/12/2022

Este ano comemora-se o centenário do escritor português, José Saramago. 

E a Academia de Letras da Bahia, através dos acadêmicos Aleilton Fonseca, Marcus Vinicius Rodrigues e Edilene Matos  uniram-se a professora Rita Aparecida Coelho Santos, da cátedra Fidelino de Figueiredo da UNEB e promoveram uma singela homenagem ao escritor: convidaram trinta autores e autoras baianas para cada um escrever uma carta relatando sua experiência com aquele que é o único Prêmio Nobel de literatura de língua portuguesa. Dessa iniciativa surgiu o livro   “Cartas da Bahia a José Saramago”, que foi lançado na semana passada precedido de brilhante conferência da escritora e professora da UFBA Mirella Márcia. Convidado que fui, tive enorme prazer em participar do projeto e assim escrever uma carta relatando a Saramago a ajuda incidental que ele deu a este escritor.

É que sempre fui leitor e admirador literário da Bíblia e, embora adorasse tanto o Antigo quanto o Novo Testamento, aborrecia-me a forma misógina como a mulher era apresentada nas histórias. Ora, dizia a mim mesmo, não foi Eva que teve a coragem de desobedecer a Deus e assim nos deu o conhecimento; não foi Sara, esposa de Abraão, que nos deu o riso ao ter a coragem de rir de Deus; não foram as mulheres que acompanharam Jesus por toda à parte no seu apostolado e o consolaram na crucificação quanto todos os homens haviam fugido. Por que então os evangelhos faziam questão de torná-las coadjuvantes numa história em que elas eram protagonistas? E durante muito tempo desejei escrever um evangelho, contar a história de Jesus, circunscrita ao mesmo enredo mas sob outra perspectiva, dando a palavra não aos homens e sim às mulheres.  Inseguro quanto a minha capacidade de enredar-me nesse projeto, ainda que no meu cérebro essa ideia estivesse se balançar num trapézio indefinidamente,  chegou às minhas mãos o Evangelho Segundo Jesus Cristo, a belíssima escritura de José Saramago.

Ora se era possível a um autor escrever seu próprio evangelho, se era possível dar a palavra a Jesus para que ele contasse sua própria história, eu também poderia escrever meu evangelho dando a palavra a Maria e a Madalena para que contassem a história sob a  perspectiva feminina. E assim Saramago injetou no meu espirito a força necessária para escrever e publicar, “Maria Madalena – O Evangelho Segundo Maria”, que dentre os meus livros é o que obteve o maior aceite do público e da critica. Por isso foi com orgulho que aceitei o convite dos meus confrades da Academia de Letras da Bahia e da cátedra  Fidelino de Figueiredo, da UNEB,  afinal, se para mim Saramago deu força e vontade para realizar meu desejo, certamente dará aqueles que o leem maneiras diversas de ver e encarar o mundo. Sendo assim, convido meus leitores a lerem “As cartas da Bahia para José Saramago”.   

Publicado no jornal A Tarde em 23/12/2022

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