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ADARY OLIVEIRA – REVISITANDO O POLO CALÇADISTA DA BAHIA

Redação - 24/10/2022 10:33 - Atualizado 24/10/2022

A Bahia se inspirou na indústria calçadista do Rio Grande do Sul para projetar sua indústria de calçados, acreditando que a disponibilidade de matérias-primas no Estado, a exemplo de couros produzidos em todo o seu território e resinas termoplásticas do Polo de Camaçari, constituíssemuma vantagem competitiva. Com isso poderia repetir o sucesso obtido por esse segmento industrial no Sul e Sudeste do País num mercado de imensa demanda mundial. O Brasil sempre desempenhou relevante papel na história do calçado, principalmente dos fabricados com couro e notadamente daqueles de uso feminino ditados pela moda. Em 1995, quando começou a ser implantado o Polo Calçadista da Bahia a liderança era exercida no Rio Grande do Sul pela região de Nova Hamburgo, em São Paulo pelos municípios de Jaú, Franca e Birigui, em Santa Catarina pela região de São João Batista e em Minas Gerais pela região de Nova Serrana. Mais de 170 milhões de pares de calçados brasileiros eram exportados para mais de 100 países e o segmento era um dos que mais criava empregos, estimando-se que em 2002 cerca de 270 mil trabalhadores atuavam diretamente nessa indústria.

A iniciativa foi considerada um sucesso e foram atraídas para o interior do Estado vários fabricantes nacionais entre eles a Bibi, Picadilly, Azaléia, Via Uno, Ramarin, Bison e Pegada, especializados na manufatura de calçados, bolsas, cintos e componentes diversos. Além dos incentivos fiscais foram influenciados pela disponibilidade de mão de obra treinada pelo Estado, infraestrutura completa como vias de acesso, galpões industriais, suprimento de água, eletricidade e outras utilidades industriais. Dentre as resinas usadas na fabricação de partes de calçados estavam as poliuretânicas, EVA, PVC suspensão, náilon e elastômeros. Os maiores benefícios para o Estado da Bahia, além dos empregos criados, movimentação das atividades do setor de serviços e geração de tributos, estavam a inserção do interior do estado no comércio internacional e a instalação de unidades fabris por toda sua área territorial.

Hoje, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) o segmento é responsável por 1,5% do PIB Industrial e está presente em 17 Territórios de Identidade, tendo a maior quantidade de empregos concentrada no Território Médio Sudoeste da Bahia. Parece muito pouco, mas é mais na ponta final da cadeia produtiva onde estão os bens de maior valor agregado, a maior geração de empregos, a maior participação de pequenas e médias empresas, contribuindo para que a indústria avance para o interior. Nesse particular o segmento se soma a outras atividades do interior, a exemplo da mineração, onde se inclui a exploração e produção de petróleo e gás natural, em franca expansão no momento. Não se exclui desse avanço a geração de energia eólica e solar fotovoltaica, apoiada nos abundantes ventos e fantástica insolação, que estão transformando a Bahia num dos maiores estados produtores de energia da Federação.

O exemplo do Polo Calçadista da Bahia está aqui sendo revisitado para lembrar aos governantes de plantão que é sempre possível identificar intervenções do governo no desenvolvimento de atividades que venham a promover o crescimento econômico, atraindo indústrias para reforçar a estratégia de desenvolvimento focada em: integração das cadeias produtivas, adensando-as e ampliando-as; na internacionalização da economia, no sentido de expansão da atividade comercial com outros países; e a interiorização do desenvolvimento, aliando-se às atividades de comércio e agropecuarista existentes.

Muitos segmentos da industrial nacional são exemplos bem-sucedidos de atividades que podem ser apoiadas pelo governo com grande probabilidade de sucesso para ampliar a industrialização, como no caso da indústria de calçados. A indústria de confecções, a fabricação de móveis, a manufatura de máquinas e equipamentos, a produção de frutas, são modelos que deram certo no Brasil em muitos lugares. A atenção voltada para a possibilidade de vendas, quando a comercialização é puxada por forte demanda, deve ser preferida. Uma alternativa, como a baseada apenas na existência de matéria-prima de forma abundante também é uma boa estratégia. Mas é muito mais fácil produzir o que o mundo já está comprando do que fabricar algo que se tenha de convencer o mercado de adquirir um novo produto. Comercializar um artigo conhecido exige menor esforço do que vender uma inovação.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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